Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito. Mas não é menos bonito celebrar a consagração sacerdotal. É reavivar um conjunto de etapas do amor nas suas diversas fases
Celebrar 25, 30, 50 anos de casamento é bonito. Mas não é menos bonito celebrar a consagração sacerdotal. É reavivar um conjunto de etapas do amor nas suas diversas fases. É ver a vida distante e próxima nas suas horas sublimes e nas suas rotinas aparentemente sombrias ou insignificantes. Mesmo que não seja uma comemoração arredondada, há um olhar novo sobre o tempo, os percursos, as opções, os erros, as fidelidades, a constância, os acertos de trajetória dentro dum caminho resoluto de viagem. Há um exame de consciência sobre o que podia ter sido melhor e um profundo sentido de ação de graças por Deus ter sido bom e generoso no apoio a todas as horas, no amparo em todos os perigos – como dizia Paulo – nos mares, nos desertos, nos irmãos, nos momentos de fome, sede e desânimo.Com uma alegria indizível de se ter chegado a uma terra prometida que, mesmo sem correr leite e mel, oferece a tenda ao peregrino que sabe que não caminhou só, nem em vão e vai prosseguir viagem. Veio, duma forma ou outra, acompanhado. Também em comunidade que ajudou a fazer. E sabe que tudo aconteceu para além dum breve instinto, ou intuição, ou acaso, mas pela mão sábia de Deus que o trouxe como a uma criança, ternamente, ao colo num longo caminho que agora sente breve como um sopro.
A consagração do sacerdócio tem esta alegria dupla: a entrega incondicional a Deus e à comunidade, do todo, com todos os riscos e incertezas que isso envolveu, olhando para o lado e vendo companheiros que mudaram de rumo – também no caminho de Deus – e nos deixaram mais sós e questionados sobre o que é teimosia nossa ou simples graça de Deus. É combater o bom combate.
É bonito este tempo celebrativo onde vem ao de cima o gratuito dom de Deus. Que tanto fez – um dia se saberá melhor – com a fragilidade dum ser humano. Impor as mãos na cabeça de novos presbíteros é continuar essa aposta emocionante que os inúmeros caminhos de Deus oferecem. É d’Ele o chamamento. Foi Ele que escolheu. Dentro da nossa liberdade.
António Rego