Arquitetura: Quinze anos após igreja de Siza Vieira, estética dos espaços católicos oscila entre o bom e o mau

Criatividade deve conjugar-se com tradição, sublinham arquitetos católicos

Lisboa, 13 mai 2011 (Ecclesia) – Quinze anos depois da inauguração da igreja que Siza Vieira projetou para a paróquia de Marco de Canaveses, a qualidade estética e litúrgica dos espaços católicos é marcada pela disparidade.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre João Norton, da equipa de arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), considerou que a construção das igrejas após esse “marco” caracteriza-se pela “heterogeneidade de qualidade e de processos”.

Ao lado de “realizações muito boas”, como “a igreja de Santo António de Portalegre”, de Carrilho da Graça, coexistem projetos em que se “solta o arquiteto à sua intuição das formas”, liberdade “que é importante mas não é tudo”.

“Por exemplo, o caso da igreja do Restelo dá o resultado que dá, tão diferente de outros mais felizes”, exemplificou o arquiteto jesuíta referindo-se ao projeto de Troufa Real destinado à paróquia de São Francisco Xavier, em Lisboa.

Para João Alves da Cunha, também do SNPC, a construção do Restelo “é um mau exemplo” por revelar “algum autismo”: “Apesar de ser para uma paróquia, o projeto representa e implica sempre toda a Igreja”, pelo que “não pode ser desenvolvido de forma tão isolada e até um pouco egocêntrica”.

“A arquitetura religiosa contemporânea não pode esquecer que tem atrás de si uma grande tradição”, assinalou o responsável, salientando que o nível médio dos espaços católicos está “em crescendo”, embora na dimensão litúrgica esteja “um pouco aquém” do esperado.

Depois de constatar o regresso “a uma disposição muito tradicional de assembleia face ao presbitério”, João Alves da Cunha vincou que esta configuração “de palco-assistência” é uma “contradição entre o que o espaço diz e a participação ativa, consciente e frutuosa dos fiéis” proposta pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).

Perante a multiplicidade de opções e cadernos de encargos que se colocam aos projetistas, “não se pode cair no erro de inventar uma fórmula mágica”, defende João Alves da Cunha: “Não há uma resposta fechada, mas há um caminho que gostávamos que se discutisse”.

A exposição da fundação italiana Frate Sole sobre arquitetura sagrada, que decorre até 19 de maio em Lisboa, bem como o seu programa de conferências, pretende “manter em aberto uma troca de impressões visuais e conversadas”, referiu João Norton.

“Um papel da Pastoral da Cultura é não deixar afastar do mundo secularizado temas que nos são familiares, fazendo com que se atualizem”, num “movimento de aproximação” que tira proveito das “linguagens comuns”, afirmou.

Os 17 paineis e três maquetas que ilustram diferentes tipologias (capelas, igrejas, espaços de oração) e origens (Europa, América, África e Ásia) estão expostos na Faculdade de Arquitetura de Lisboa (Pólo Universitário da Ajuda), podendo ser vistos no Porto, na Escola das Artes da Universidade Católica, em outubro.

A mostra inclui a capela de São José, em Quebrantões, Vila Nova de Gaia, assinada por José Fernando Gonçalves, que recebeu uma menção honrosa na última edição do concurso Frate Sole, além da capela do Centro de Reflexão e Encontro Universitário (Porto) e a igreja da Santíssima Trindade (Fátima).

Em 2000, o primeiro prémio do concurso, que decorre a cada quatro anos, foi entregue a Siza Vieira pela igreja de Marco de Canavezes, inaugurada em 1996.

RM

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