Arquitecto ortodoxo em igreja católica

Presença de arte inspirada na tradição cristã oriental é uma das marcas da nova igreja de Fátima O arquitecto grego Alexandros Tomabazis considerou que não houve “nenhum problema” no facto de ter sido um ortodoxo a projectar a nova igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Falando aos jornalistas da experiência de construir uma igreja desta dimensão num santuário católico, Tombazis considera que “há muito mais em comum do que a separar” católicos e ortodoxos, indicando que a sua preocupação foi mais o “enfrentar problemas funcionais e de criação de espaço”. Para o arquitecto, este foi um projecto muito importante, seja pela relevância do espaço seja pela maneira como todo o processo de construção se desenrolou. Alexandros Tombazis relevou, em resposta a uma questão da Agência ECCLESIA, que uma igreja é “o projecto mais abstracto” que pode ser atribuído, dado que a função do edifício – apesar de importante – não é tão determinante como, por exemplo, no caso de um hospital. “A espiritualidade do espaço, a noção da abstracção, da espiritualidade, torna tudo muito desafiante”, indicou. A relação com Fátima já vai em 10 anos e, no final, fica a satisfação “pela experiência de ter lidado com todas estas pessoas”. Num olhar sobre o futuro, Tombazis acredita que o público em geral vai perceber, nesta obra, que a arquitectura é “expressão de vida, que evolui”. “A arquitectura religiosa também evolui, de um modo mais lento, mas muito profundo, como é lógico, devido à importância do tema”, referiu. A igreja da Santíssima Trindade procurou, por isso, ser expressão de “desenvolvimento e da contemporaneidade”, tanto no projecto arquitectónico como nas obras de arte, mas “sem hipérboles”. António Carvalho, engenheiro da Somague e director geral da obra, considera que esta é “uma obra única, raríssima, que se distingue de tudo o resto a nível de engenharia”. Elementos de vanguarda foram contemplados para levantar um edifício: o ponto crítico da construção está nas duas vigas em betão branco, que requereram equipamentos que não existiam em Portugal e “o arrefecimento com azoto líquido”, uma experiência inédita até então. As vigas permitem a existência de 90 metros de vão livre dentro da igreja, para não haver pilares no interior. O Reitor do Santuário revelou, por seu lado, que a imagem de Nossa Senhora para a nova igreja chegará, desde a Itália, no próximo dia 4 de Outubro. A mesma será colocada, sobre um pedestal, no espaço do presbitério. Mons. Luciano Guerra explicou que várias peças de arte foram solicitadas a artistas de países “onde há devoção a Fátima”, alargando esse leque de escolhas à tradição cristã oriental, na Europa. Recusando entrar em polémicas sobre quaisquer iniciativas ecuménicas ou inter-religiosas, este responsável assumiu-se como um “defensor do culto mariano” e do “apoio aos pobres”. “Somos um país que não tem raízes de outras religiões”, sublinhou, pelo que “não vou ter aqui de acelerar um movimento de relação que nem sequer acontece na sociedade civil”. Alexandros Tombasis recordou que as religiões “têm mais coisas em comum” do que diferenças, pelo que a nova igreja procurou ser um reflexo do “diálogo artístico” entre várias convicções e tradições.

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