Novas tecnologias permitiram revelar frescos do século IV nas catacumbas de Santa Tecla, em Roma
Arqueólogos e restauradores de arte descobriram o que acreditam ser as pinturas mais antigas dos rostos dos apóstolos Pedro, Paulo, André e João, usando uma nova tecnologia a laser.
A revelação, feita ontem no Vaticano, ocupa boa parte da edição de hoje do jornal “Osservatore Romano”.
As imagens encontradas num ramal das catacumbas de Santa Tecla, perto da Basílica de São Paulo fora de muros, foram pintadas no fim do século IV ou inícios do século V.
O achado, revelado depois de 2 anos de investigações, foi apresentado oficialmente pelo presidente da Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra e do Conselho Pontifício para a Cultura, D. Gianfranco Ravasi.
A tecnologia a laser conseguiu eliminar uma grossa camada que cobria estas obras.
Barbara Mizzei, responsável pelo restauro, disse que este aconteceu “num momento particular”, no qual “não tínhamos nenhuma situação de urgência”.
Mizzei explicou que a concentração de cal que cobria os rostos dos apóstolos “foi levantada sem tocar a película pictórica” dado que a humidade permitia ao laser “tocar a compressão calcária”, a qual “se vaporizava e provocava uma espécie de pequena explosão, que gerava o destacamento”.
O cubículo que continha estas pinturas terá servido como túmulo de uma mulher aparentemente nobre da aristocracia romana, que viveu no final do século IV, quando em Roma se realizavam as últimas tentativas de defender o paganismo, na época do imperador Teodósio (345-379).
As mulheres piedosas e as virgens da aristocracia romana prometeram um culto aos mártires e aos apóstolos, na época do Papa Dâmaso I (366-384).
Segundo D. Gianfranco Ravasi, a presença dos apóstolos neste sepulcro “evoca uma espécie de devoção e de protectorado alternativo em relação ao dos mártires romanos, que, de qualquer forma, apareceram nos túmulos das famílias”.
Por outro lado, D. Giovanni Carrú, secretário da Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra, indicou que estes trabalhos “devolveram, tanto aos especialistas como aos visitantes, um património iconográfico muito importante para reconstruir a história da comunidade cristã de Roma, que, com as pinturas que decoram os seus cemitérios, expressam a sua cultura, a sua civilização e a sua fé”.
“No que diz respeito a pinturas no interior de catacumbas, estamos acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas, com poucas cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram as cores extraordinárias. Quanto mais avançámos, mais surpresas encontrámos”, disse Mazzei.
Situado num labirinto de catacumbas sob um prédio moderno, o túmulo ainda não está aberto ao público devido às obras que continuam, à dificuldade de acesso e ao espaço limitado.
A Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra foi instituída pelo Papa Pio IX em 1925. Trabalha na conservação das catacumbas cristãs, no restauro de obras e escavações.
Há cerca de duas décadas, vem trabalhando num projecto de recuperação do património pictórico conservado nas catacumbas.
Redacção/Zenit