«O outro não pode ser um estranho para mim», afirmou D. Jorge Ortiga na festa do padroeiro principal de Braga
O Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, afirmou que é urgente «promover uma cultura da compaixão». Na missa da festa litúrgica de São Geraldo, padroeiro principal da cidade, o prelado apelou a uma acção política «comprometida com os verdadeiros problemas dos cidadãos».
A celebração, realizada nesta Sexta-feira na Sé bracarense, contou com a presença do presidente da Câmara de Braga e do executivo municipal, bem como de dezenas de autarcas eleitos nas freguesias do concelho.
Na homilia, D. Jorge Ortiga salientou que o amor de Deus «nos leva a ser capazes de ter misericórdia pelos sofrimentos do próximo». Por isso, continuou, «temos de sofrer com quem sofre e, como resultado, empenharmo-nos em eliminar as causas que impedem as pessoas de serem felizes. O outro não pode ser um estranho para mim».
Servindo-se do próprio exemplo de vida de São Geraldo, seu antecessor na condução da Arquidiocese de Braga, o prelado mencionou a última encíclica do Papa Bento XVI, “Caritas in Veritate”, para defender que, perante a miséria do próximo, a Igreja e os políticos não devem resumir a sua acção a medidas paliativas.
«Não se trata simplesmente de “matar a fome” a um pobre, acalmando a nossa consciência, mas sim de o promover na sua totalidade, restituindo-lhe a dignidade que lhe foi roubada e que é sua por direito», defendeu D. Jorge Ortiga.
Para concretizar este objectivo, «Deus deve encontrar lugar na esfera pública, nomeadamente na dimensão cultural, social, económica e, particularmente, política», disse o prelado. «Por vezes, pretende-se excluir a religião do âmbito político, o que faz com que os direitos humanos nem sempre sejam respeitados porque ficam privados do seu fundamento transcendente», acrescentou, citando o documento do Papa.
Na missa, que foi concelebrada pelo arcebispo emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, por parte do Cabido Primacial e por outros sacerdotes da arquidiocese, D. Jorge Ortiga frisou que, «os políticos têm um papel preponderante e capaz de promover mudanças efectivas».
«Olhando para a actual situação da nossa sociedade, não posso ficar indiferente ao drama do desemprego. E estou certo que, se os políticos partilharem esta minha preocupação, lutarão para que “as diferenças da riqueza não aumentem e se continue a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção”», afirmou o arcebispo, continuando a citar a “Caritas in Veritate”.
«Sem trabalho adequado, não é possível experimentar a alegria de viver; sem trabalho adequado, os problemas multiplicam-se», salientou o arcebispo.
«O desemprego» – acrescentou – «gera condições de insegurança social, pelos comportamentos desadequados que a carência do essencial pode motivar».
«Mesmo sem perturbar a ordem pública, facilmente reconhecemos a instabilidade pessoal e familiar que, com conhecimento de todos, está a acontecer», observou D. Jorge Ortiga, indicando que a situação actual exige uma «acção política comprometida com os verdadeiros problemas dos cidadãos».
O prelado recordou aos autarcas que o desempenho de uma missão «confiada por uma outra pessoa, torna-se responsabilidade acrescida».
«Cristo confiou em todos nós o nobre encargo de promover a caridade na verdade, por meio de um desenvolvimento integral da pessoa», observou o arcebispo primaz. «A classe política, de um modo análogo e especial, é também co-responsável nesta missão, uma vez que também ela desempenha um encargo confiado democraticamente pela sociedade», sintetizou D. Jorge Ortiga.
Com Diário do Minho