Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
A primeira viagem internacional de Francisco marcou o regresso do Papa argentino à América Latina e foi vivida com visível entusiasmo pelo próprio e pelas pessoas que o acompanharam ao longo de uma semana, num abraço constante tanto a quem estava perto como a quem se afastou, com gestos e momentos que vão marcar a história do pontificado.
O Papa mostrou-se igual a si próprio e é já sem surpresa que o vemos seguir num carro utilitário ou contornar o protocolo para se aproximar das pessoas, dar-lhes um pouco do seu tempo, aceitar presentes ou beber mate – para pânico da segurança. Mesmo dentro dos momentos programados, viu-se Francisco ir ao encontro de quem lhe falava das dificuldades que experimenta ou experimentou, dar um abraço, uma palavra de conforto, uma carícia.
Francisco cativa por ser assim e deixa muitas pessoas a desejar que a sua simplicidade possa contagiar a Igreja e a sociedade, numa mudança de época que tem provocado cada vez mais pobres e desempregados.
O Papa mostrou, contudo, que é muito mais do que um conjunto de imagens ou gestos e as suas palavras – apesar da barreira que o português representou – foram carregadas de mensagens dirigidas às maiores preocupações da Igreja Católica e da sociedade, em particular no Brasil, onde as manifestações não chegaram a fazer sombra à ‘festa da fé’ – que agora Francisco quer ver transformada numa missão “revolucionária” capaz de promover o diálogo e resgatar a solidariedade.
Os jovens que deram vida à Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro – com um comportamento notável, é justo dizer-se – foram chamados a ser missionários no seu próprio meio e nas “periferias existenciais”, um conceito particularmente querido ao Papa.
Num evento destas dimensões, é compreensível que existam obstáculos ao acolhimento da mensagem: os espaços são enormes, há problemas técnicos na difusão do som, o entusiasmo pode dificultar a escuta e a reflexão. Agora, com tempo, será importante que os participantes na JMJ e todos os que se entusiasmam com a figura de Francisco possam reler e aprofundar as suas homilias e discursos.
Empurrado pelos milhões que se juntaram à sua volta, o Papa superou com sucesso este primeiro desafio internacional, apesar do cansaço, e mostrou que sabe superar o imediatismo dos gestos ou das imagens, comunicando de forma direta e incisiva mesmo nos temas mais difíceis.
Para Francisco, foi uma missão cumprida. Para os jovens, a JMJ começa agora…