Aquela vida que, sendo nossa, não vivemos

José Luís Nunes Martins

Hoje, a vida passa-se quase só no exterior de nós. Fugimos do que somos, porque somos bombardeados por tantas mentiras que deixámos de estar confortáveis perto da verdade. Perto de nós mesmos. Ocupamo-nos tanto que, com isso, não temos tempo para nos preocuparmos com o que é importante. A vida íntima é, para muitos, apenas um lugar desabitado e sem sentido.

São tantas as capas que usamos para nos esconder que, talvez, já nem nos reconheceríamos se víssemos o que somos por baixo das aparências. No coração de cada um de nós guardamos o que decidimos adiar e o que julgamos que nos daria demasiado trabalho, o que não valeria a pena, enfim, o que ficámos por ser.

É essencial pensar bem sobre a vida que, sendo nossa, não vivemos.

Há quem julgue que se chega à plenitude através da acumulação. Acreditam na mentira de que, para se ser alguém de valor, é necessário ter muito, ter cada vez mais. Mas é o contrário… o caminho da paz implica ir renunciando ao que não é importante, seguindo em frente, com o coração vazio do que não importa.

A felicidade é muito mais do que ter as necessidades satisfeitas e os desejos acalmados. Se alguém quer chegar a ser feliz, deve voltar a casa, esvaziar-se e deixar que entre a luz.

Só vive a plenitude quem passou pelo vazio.

Em silêncio e na quietude, descobrimo-nos… por baixo das camadas de mundo com que nos defendemos da verdade.

Se vivemos quebrados interiormente, o primeiro passo da recuperação é aceitarmo-nos assim, tal como estamos, para depois nos recompormos, tal como somos. É preciso tempo e amor.

O silêncio não é difícil. Difícil é aceitar que só nele se pode encontrar a verdade.

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