Anunciar no tempo das perguntas

Alexandre Cruz

Mais que de grandes respostas pré-elaboradas, são as grandes perguntas que motivam caminhadas, despertam ideários e robustecem o empreendimento comunitário. A época de formação por excelência, como os temos e espaços das academias, são hoje lugar onde todas as grandes questões do nosso tempo deverão ser relançadas numa lógica universalista.

É neste campo da universalidade do conhecimento humano aberto a todas as possibilidades – e mesmo sabiamente ao infinito – e no consagrado serviço à pessoa humana que as estruturas encontram o seu sentido porque se abrem às pessoas e às suas realidades de modo acolhedor, permitindo o encontro gratificante e serviçal, como acontece em tantas localidades e cidades onde igrejas e universidades são capazes de gerar projeto de parceria potenciador do melhor bem comum.

Propuseram-nos como reflexão a participação das universidades na Igreja, tema este que mostra a pertinência do ir e vir de diálogo, onde nos perguntamos sobre o que estamos predispostos a aprender autenticamente uns dos outros para convergirmos na liberdade e no respeito por cada espaço em torno de ideais e descobertas maiores, em interação com estudantes, docentes, funcionários, comunidades.

Dizia generosamente o sociólogo e filósofo Theodor Adorno, da Escola de Frankfurt, que “todo o pensamento que não se deixa decapitar resulta em transcendência”. A participação das universidades, temática que nos norteia, é, assim, desperta para a capacitação de não se deixar truncar, do cultural ao científico, não perdendo de vista as finalidades dignificantes e humanitárias do próprio conhecimento. Mas para haver encontro autêntico e fecundidade dialogal, a própria estrutura eclesial terá de ser permeável às perguntas da ciência e da cultura, enraizando-se em aliciante fundamentação que navegando pela inteligência emocional saiba seduzir ao mistério.

Talvez importe em todos uma nova focagem no essencial: mais que viver alavancado na memória (ela é um pilar humano essencial), na tradição (ela alimenta comunidades), ou das conquistas científicas admiráveis (que seriamos nós todos sem elas?), tanto das universidades como das igrejas as comunidades esperam e confiam que sejam motores a favor do pensamento (é grátis pensar!) e do melhor desenvolvimento humano e responsabilizante de todos, procurando derrubar o individualismo e indiferentismo alienantes.

Será preciso sublinhar que a ciência das universidades não é fria, que as igrejas não são só emoção e que na sua raiz está inscrita a razoabilidade da fé, que a investigação implica um arriscar repleto de esperança que ultrapassa a lógica quantitativa e que quanto mais longe vai o nobre e humilde cientista (e sempre aluno) na sua descoberta mais se sentirá fascinado por leis tão superiormente inscritas na matéria física. Ou seja, estamos bem mais próximos do que a razão humana muitas vezes pensa.

O tempo é que pode ser a variável diferenciadora como representando o modo de estar diante do novo. Se a investigação e ensino nas universidades procuram o conhecimento ansiando pelo futuro (não devendo negligenciar as fronteiras da ética), já as igrejas podem pela prudência – que quando em excesso pode representar segurança que rejeita o profetismo – deitar a perder o poder de antecipação que a sabedoria inspirada poderia oferecer, por exemplo, nas diferenças de serviços eclesiais devido a questões de género humano ou a efetiva nova linguagem sobre a fé que soubesse à imagem dos fundadores estabelecer adequadas atualidades e contemporaneidades. Não é linear a matéria, pois por vezes o que parece novo é velho e vice-versa, e o próprio receio de “errar” pode aconselhar o deixar estar.

No tempo atual, em que as instituições são grandemente interpeladas à sua própria significatividade histórica, as universidades e igrejas no serviço às comunidades locais, nacionais e internacionais, têm valores civilizacionais inalienáveis como urgentes a preservar e anunciar. Terá chegado o fim das dicotomias (ou, ou), estamos no tempo das convergências salvadoras. Como refletia o crente cientista Theilhard de Chardin, tudo o que sobre converge: somos sempre poucos para elevar a dignidade da pessoa humana para maiores e melhores desígnios pelo pensamento crítico construtivo, social, ecuménico, cívico, ético e cidadânico. As comunidades precisam destes estímulos das principais estruturas educacionais, na sua diversidade, como o são as igrejas e as universidades.

Alexandre Cruz, provedor do estudante da Universidade de Aveiro

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