João Miguel Almeida, CEHR – Universidade Católica Portuguesa
António Lino Neto (1873-1961) foi um militante católico toda a vida e dirigente de organizações católicas desde o final da monarquia constitucional aos primórdios do Estado Novo, advogado, professor catedrático de Economia Política e publicista.
Nasceu em Mação, frequentou o seminário de Portalegre e estudou Direito em Coimbra, entre 1894 e 1899. Iniciou a sua colaboração jornalística no Distrito de Portalegre, periódico dirigido por Frederico Laranjo, um dirigente do Partido Progressista, importante pioneiro da História e da teoria económica em Portugal. No ano em que António Lino Neto conclui o curso é nomeado, mediante provas públicas, secretário-geral do Governo Civil de Beja, cargo do qual pedirá transferência para Portalegre.
As suas intervenções públicas no início do século XX traçam, como resposta ao sentimento de decadência causado pelo Ultimato de 1890, uma regeneração nacional assente em três pilares: uma revitalização da Igreja Católica através de uma melhor formação do clero; uma reforma económica baseada no ressurgimento da agricultura; uma reforma da administração pública mediante a descentralização e uma transferência de poderes para os municípios. A regeneração do clero é defendida em diversos artigos de jornal. As outras vertentes regenerativas são objeto de livros: A Questão Agrária, de 1908, e A Questão Administrativa (o Municipalismo em Portugal), de 1911.
Em 1908, António Lino Neto vem viver com a família para Lisboa e torna-se professor catedrático do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Como católico, empenha-se na organização dos Congressos das Agremiações Populares Católicas. Durante a Grande Guerra integra, como vogal, a Comissão para Assistência Religiosa em Campanha, de 1916 a 1918. Na República Nova de Sidónio Pais, António Lino Neto assume responsabilidade políticas de nível nacional, ao ser eleito pelo Centro Católico Português (CCP) para a câmara dos deputados, da qual será vice-presidente e presidente interino. É também vereador, com o pelouro das subsistências, da Câmara Municipal de Lisboa, de novembro de 1917 a 1918.
Na república do pós-Grande Guerra, António Lino Neto é eleito presidente do CCP, cargo que exercerá de 1919 a 1934. Em 1920 aparece nas bancas A União, o semanário oficial do CCP dirigido por António Lino Neto. A nova orientação do CCP afirma a prioridade da causa católica em relação à questão do regime, seguindo as diretrizes do episcopado e em coerência com o empenho do Papa Bento XV em fazer o ralliement com a República portuguesa. Esta atitude torna o CCP alvo do fogo cruzado entre republicanos laicistas, que querem repor a Lei da Separação do Estado e das Igrejas de 1911 na sua «pureza intangível», e monárquicos fiéis a D. Manuel II para quem os direitos da Igreja Católica só seriam defendidos com a restauração monárquica. É com os republicanos que aceitam discutir a chamada «Lei Moura Pinto» de 1918, a qual eliminara os aspetos mais gravosos da Lei de Separação de 1911, que António Lino Neto negoceia no parlamento a melhoria das condições da Igreja Católica na República.
Apesar das tentativas de entendimento entre Estado e Igreja, que tiveram um protagonista republicano em António José de Almeida, Presidente da República de 1919 a 1923, a I República cai sem que a Lei da Separação seja revista num sentido satisfatório para ambas as partes.
Durante a ditadura militar, o CCP vai sendo desativado, apesar das expectativas que os centristas depositam na chegada de Salazar a ministro das Finanças em 1928. António Lino Neto defende a continuação do Centro Católico Português como ramo da Ação Católica para fazer «a política da Igreja», mas o Estado Novo entende que os católicos devem fazer política na União Nacional e Pio XI quer unir os católicos numa Ação Católica que cinja a sua atividade ao terreno social e religioso.
Após demitir-se de Presidente do CCP, em 1934, António Lino Neto regressa à vida académica e à advocacia. A partir de 1941 vai-se desvinculando das suas diversas atividades profissionais para continuar a publicar em jornais católicos, como o homem de Igreja que foi toda a vida.
João Miguel Almeida, CEHR – Universidade Católica Portuguesa