Fotobiografia e testemunhos A Fotobiografia “António Ferreira Gomes (1906-1989): Bispo ao serviço da Liberdade” é apresentada esta segunda-feira no Porto, no âmbito do Congresso Internacional que assinala o centenário de nascimento do prelado. Com direcção e textos introdutórios de D. Carlos Moreira Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e especialista em História da Igreja, a obra das Edições ASA apresenta ainda testemunhos sobre a vida e obra de D. António Ferreira Gomes. Para seleccionar as imagens, os autores recorreram ao Arquivo da Fundação Spes, completada pela colaboração da família e de alguns particulares. Em cada página é colocado um pensamento de António Ferreira Gomes. Na apresentação do livro, D. Armindo Lopes Coelho, actual Bispo do Porto, assinala que “as páginas desta fotobiografia colhem a lição de uma vida como incentivo ao futuro e não expressam um saudosismo criador de nostalgias sem dinamismo”. A biografia está dividida em quatro momentos, apesar de D. Armindo frisar que “a coerência com que (D. António Ferreira Gomes, ndr) acolhe e vive a missão de ser bispo, sucessor dos apóstolos, orientado antes de tudo pela verdade do Evangelho, obrigaria a apenas duas etapas: antes e depois da ordenação episcopal. Só aparece interrompida em virtude do exílio a que se vê obrigado pelo poder político. Consideramos por isso adequado destacar essa fase”. Esses momentos são: “Raízes do homem livre (1906-1948)”; “Dignidade e responsabilidade de um bispo (1948-1959)”; “«Estou exilado, civilmente exilado»” (1959-1969)” e “Magistério profético e construção da Igreja do Porto (1969-1989)”. Uma vida livre Os textos de D. Carlos Azevedo destacam a figura de D. António Ferreira Gomes como um “homem livre, amante firme da verdade”. Desde o nascimento do Bispo do Porto, na freguesia de Milhundos (Penafiel) às quatro da manhã do dia 10 de Maio de 1906, até à sua morte, a 13 de Abril de 1989, pelas 04h30, somos conduzidos por uma vida notável, que encarna o “humanismo cristão”, a linha condutora das várias posições assumidas pelo prelado. A sua sensibilidade para com os problemas sociais vem ao de cima desde a primeira hora da sua missão enquanto bispo, no Alentejo. A 13 de Julho de 1952 é nomeado bispo do Porto, onde se notabilizou pela atenção “à miséria social do povo português, pela crítica cerrada ao corporativismo do Estado e pela exigência de livre expressão do pensamento e da acção política”. As eleições para a presidência da República, a 8 de Junho de 1958, seriam um momento marcante na vida de D. António Ferreira Gomes. Depois de uma série de mal-entendidos e confrontos com o Estado Novo e alguns membros da Igreja, o Bispo do Porto sai do país, a 24 de Julho de 1959, por ser aconselhado a retirar-se uns tempos para férias, mas é depois proibido de entrar, quando em Outubro pretende regressar. Vê-se forçado a um exílio de dez anos, iniciado em Vigo e depois continuado em Santiago de Compostela, Valência – onde colabora na acção Pastoral – Beuel (Alemanha), Lourdes, e terminado em Ciudad Rodrigo e Alba de Tormes. D. Carlos Azevedo lembra ainda a passagem do Bispo do Porto pelo II Concílio do Vaticano em que D. António “tece críticas à falta de abertura mental, teológica e eclesial do episcopado português e sobretudo à incapacidade para perceber o lugar de um bispo e da Igreja na sociedade e na relação com o Estado”. No dia 5 de Julho de 1969 o Bispo do Porto regressa à sua cidade e entra no Paço Episcopal, entretanto restituído à diocese. “O tempo é todo dedicado ao projecto de intensificar o ritmo conciliar na vida diocesana”, explica D. Carlos Azevedo. Da leitura destas notas biográficas fica a imagem de “quem proclamou a liberdade e encontrou-lhe uma pedagogia, defendeu a justiça e entregou-lhe a força da razão, elaborou uma proposta de paz e retirou daí as consequências, procurou permanentemente a verdade com coragem profética”. Congresso Internacional A Diocese do Porto e a Fundação Spes, a que se associam o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes e a Fundação Eng.º António de Almeida, programam este Congresso, entre várias iniciativas para assinalar o Centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes (10-5-1906 – 13-4-1989). Figuras marcantes como a do Bispo do Porto (1952-1982) não só devem permanecer na memória colectiva da sua cidade e do seu país, mas importa revisitar o seu contributo para lá do arco da sua vida. Isso conduzirá a repensar hoje a sociedade, a cultura, a dignidade humana, concretizada na liberdade, na paz e na justiça, à luz da fé cristã. A referência simbólica da sua vida e força sapiente e corajosa do seu testemunho permanecem motivação e raiz para uma nova consciência da complexidade actual da realidade humana. Programa Dia 8 – Segunda-feira 15.00h – Sessão de Abertura Palavras de Boas-Vindas do Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho. Apresentação do Congresso pelo Presidente da Fundação Spes, D. Manuel da Silva Martins. 15.30h – Leitura e juízo da realidade e da história com critérios do humanismo cristão. João Duque – Faculdade de Teologia da UCP – Braga A contribuição da fé cristã para a construção do ser humano na actual situação sócio-cultural. Martin Velasco – Instituto de Pastoral – Madrid 16.30h – Debate. 17.00h – Intervalo. 17.15h – Configuração da Fé no futuro. José Eduardo Borges de Pinho – Faculdade de Teologia da UCP – Lisboa Reino de Deus, teologia política e carácter salvífico da ética cristã, segundo o pensamento de D. António Ferreira Gomes. Manuel Rodrigues Linda – Reitor do Seminário de Vila Real 18.15h – Debate. 18.30h – Lançamento da Fotobiografia, das Edições ASA. Apresentação de medalha comemorativa, da autoria de Irene Vilar, editada pela INCM. 21.30h – Concerto. Coro da Sé Catedral do Porto Dia 9 – Terça-feira 09.30h – Por uma cidadania esclarecida à altura dos desafios da nova era da globalização. Manuela Silva – Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz O papel supletivo do Estado e distinção entre moral e direito. João Carlos Espada – Faculdade de Ciências Humanas da UCP – Lisboa A experiência cristã em face da democracia e da cidadania. António Matos Ferreira – Faculdade de Teologia da UCP – Lisboa 10.45h – Debate e intervalo. 11.30h – Democracia participativa como processo de humanização. A perspectiva do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Ángel Galindo Garcia – Facultad de Teologia – Salamanca. Recurso à doutrina da Igreja na crítica de D. António Ferreira Gomes à política social do Estado Novo. Manuel Pinho Ferreira – Faculdade de Teologia da UCP – Porto 12.30h – Debate e intervalo Almoço. 14.30h – D. António Ferreira Gomes a sua visão das relações entre Igreja e Estado e a crise de 1958. Bruno Cardoso Reis – Centro de Estudos da História Religiosa da UCP – Lisboa Actividade pastoral do Bispo do Porto em Valência 1960-1963. Nuno Vieira – Professor do Seminário Maior da Diocese Segorbe – Castellon – Espanha As Categorias semânticas nas Homilias da Paz. Manuel Correia Fernandes – Director do Jornal “Voz Portucalense” A solução dos conflitos e as exigências da Paz. D. Januário Torgal Ferreira – Bispo das Forças Armadas e de Segurança 16.15h – Debate. 17.00h – Partida para Milhundos (Penafiel), terra natal de D. António Ferreira Gomes. 19.00h – Celebração da Eucaristia, presidida por D. Armindo Lopes Coelho. 20.00h – Jantar em Penafiel. Dia 10 – Quarta-feira 09.30h – Visão Teológica das Cartas ao Papa. Marco Salviati – Pontificia Università di S. Tommaso di Aquino – Roma A democracia como processo de humanização. Perspectiva Internacional. José Alberto Azeredo Lopes – Faculdade Direito da UCP – Porto 10.30h – Debate. 11.00h – Intervalo. 11.15h – Sessão de encerramento, com autoridades presentes. Visionamento de DVD, a oferecer aos congressistas. O futuro de um legado: ser cristão credível. D. Carlos A. Moreira Azevedo – Bispo Auxiliar de Lisboa