Ano Santo/Portugal: Capelanias da Pastoral Penitenciária têm procurado «dar experiências reais de esperança»

«A experiência da prisão é a experiência da perda de esperança» – Padre José Luís Costa

Lisboa, 12 dez 2025 (Ecclesia) – O coordenador da Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal afirmou que “a experiência da prisão é a experiência da perda de esperança”, e, neste Ano Santo 2025, destacou que as capelanias pelo país têm “apontado” esse sinal.

“A experiência da prisão é a experiência da perda de esperança. O que se faz, fundamentalmente, é convidar ou olhar a grandeza da condição humana, não só no seu aspeto temporal, mas dar-lhe uma intemporalidade, e um desafio de entender a realidade a partir do Evangelho, e da transformação que Jesus Cristo nos propõe”, disse o padre José Luís Costa, esta sexta-feira, 12 de dezembro, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O coordenador da Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal explica que “tem de ser um discurso de proximidade, e muito concreto”, porque a população prisional “é uma população carente, é uma população pobre”, e essa pobreza é de carácter espiritual, “ou seja, de perspetiva de vida”, onde experimentam com os detidos, “muitas vezes, essa mesma carência de horizontes”.

“Excecionalmente, temos um ou outro elemento que cai neste sistema, porque obviamente teve um momento menos feliz, e com toda a responsabilidade que isso implica, mas consegue traduzir um pouco desta experiência. Lembro-me de alguém dizer, de uma forma engraçada, que quando se vai para o sistema prisional ou se piora ou se sai monge, ou viajamos até às profundezas daquilo que o ser humano tem de pior, ou damos ali um salto de transcendência brutal”, desenvolveu o sacerdote.

Segundo o padre José Luís Costa, “há momentos” de homens e mulheres que dão esse “salto” e se “reconciliam com a sua história neste sistema”, acrescentando que “é preciso muito” repensar a reinserção social de quem está preso porque é preciso mudar os equipamentos e é preciso também “dar ambição”, uma vez que o sistema prisional “tende a cair no quotidiano, na gestão do dia-a-dia”, e vai perdendo essa dimensão da reconciliação.

“Um recluso transporta sempre na sua pessoa, individualmente, a partir de si mesmo, mas também com o olhar que gera e a desconfiança que gera na sociedade, sempre esta malignidade. Continua a haver um discurso punitivo e a ilusão de achar que basta a punição para repor toda a verdade, o que não é verdade.”

Uma delegação da Pastoral Penitenciária de Portugal vai participar no Jubileu dos Reclusos, integrando um grupo de 6000 peregrinos de 90 países, entre hoje e domingo, em Roma; esta iniciativa é o último grande encontro mundial do Ano Santo dedicado ao tema da esperança, antes do seu encerramento (6 de janeiro de 2026).

Pelo início deste ano jubilar, em janeiro, o padre José Luís Costa, em entrevista à Agência ECCLESIA, salientava que a ocasião era boa para promover uma mudança cultural em relação aos presos, e, salienta agora, que “as mudanças culturais não acontecem de presa, precisa de algum tempo, o coração humano é mais difícil de converter”.

“As capelanias têm apontado este sinal de esperança através da sua ação permanente e, acima de tudo, da procura de fórmulas concretas de experiência jubilar. Uma coisa é falarmos, outra coisa é, depois, no concreto, dar experiências reais de esperança”, referiu o coordenador da Pastoral Penitenciária de Portugal.

Segundo o sacerdote, que é o capelão do Estabelecimento Prisional de Caxias e do Hospital Prisional de São João de Deus, “foram acontecendo coisas muito interessantes ao longo de todo o país”, como o Algarve, com “exposições conseguiu provocar a comunidade local dentro do sistema prisional”, o Porto “foi bastante atuante” ao animar “este tempo de jubileu”.

No Programa ECCLESIA, desta sexta-feira, na RTP2, o padre José Luís Costa comentou também a liturgia que vai ser escutada nas Missas deste domingo, e, no Evangelho, João Batista está na prisão, que é um dos textos que o entrevistado considera “pilar para quem quer avançar nesta experiência da pastoral penitenciária”.

PR/CB/OC

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