Ano Santo 2025: Jubileu pode oferecer «um convite à unidade» ao mundo, afirmou arcebispo de Évora

«Os povos podem perceber que há experiências comuns, como o sofrimento, a pobreza, o sonho, a esperança, a alegria, a vontade de construir, de edificar» – D. Francisco Senra Coelho

Foto Agência ECCLESIA/MC, 47 Semana Bíblica

Fátima, 27 ago 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora afirmou hoje que o Jubileu da Esperança, da Igreja Católica, pode oferecer “um convite à unidade” ao mundo, em declarações à Agência ECCLESIA, na Semana Bíblica Nacional 2025, dos Franciscanos Capuchinhos, em Fátima.

“Há uma dificuldade muito grande de encontrar centros que unam a humanidade. Jesus Cristo une uma grande parte, uma significativa parte da humanidade. E esta parte da humanidade, centrada no ideal da paz e da fraternidade, pode, de facto, dar um grande contributo para a esperança de que há protagonistas a trabalhar pela paz”, disse D. Francisco Senra Coelho, na manhã desta quarta-feira, dia 27 de agosto.

O arcebispo de Évora, doutorado em História, explicou que o jubileu “é um apelo à verdade e a esperança, nasce da unidade, e de uma objetividade comum”, que é a mensagem de Jesus Cristo, “uma mensagem de paz”, e Jesus Cristo pode ser “o motivo, o protagonista, o contemporâneo, que faz diluir tudo que possa ser a rivalidade e unir”.

Com o tema ‘O Jubileu na Bíblia, na Igreja e na vida’, os Franciscanos Capuchinhos em Portugal estão a realizar a sua 47.ª Semana Bíblica Nacional, desde domingo, dia 24, no Centro Bíblico em Fátima, até esta quinta-feira, 28 de agosto.

Segundo o Capuchinho frei Fernando Ventura, o Jubileu tem que passar pelo “ressuscitar dos afetos, pela diminuição e, oxalá, desaparecimento da violência” naquilo que são as relações interpessoais.

“A Semana Bíblica pretende trazer esta reflexão, não só aproveitando, naturalmente, a ocorrência do Ano Jubilar, mas, sobretudo, aproveitando hoje a ocorrência desta falta absoluta de jubileus, de celebração de vidas, de celebração de paz, de celebração de relações redimidas que o mundo desesperadamente precisa”, desenvolveu o diretor da Revista Bíblica da Província Portuguesa da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.

D. Francisco Senra Coelho apresentou hoje uma reflexão sobre ‘Os Jubileus mais importantes na História da Igreja’, e explicou, à Agência ECCLESIA, que no contexto atual mundial marcado pela guerra, este Ano Santo pode oferecer “um convite à unidade”, que, “evidentemente, que não acontece por si, mas a partir de um diálogo que nasce de um encontro”.

“Os povos podem perceber que entre eles há experiências comuns, como o sofrimento, a pobreza, o sonho, a esperança, a alegria, a vontade de construir, de edificar; o jubileu tem uma dimensão religiosa, cultural e, ao mesmo tempo, de encontro, que poderia dizer de grande convite à paz”, realçou.

Para o arcebispo de Évora, como as crianças na praia, “apesar das diferenças de cor e de etnia, todas sabem a linguagem de brincar”, também os homens, perante o convite de Deus, “todos sabem os sinais, a linguagem do amor, do acolhimento, que vem depois em relação de cooperação e de amizade”.

O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro ano santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária, e finalmente fixado de 25 em 25 anos.

Segundo a prescrição contida no capítulo 25 do Livro do Levítico, de sete em sete semanas, no quinquagésimo ano, a “trombeta de aclamação” deveria soar para proclamar um “sábado” de 12 meses, durante o qual a terra devia descansar, as dívidas ser perdoadas, e os bens devolvidos à sua propriedade original.

“O Jubileu é o Shabbat (dia sagrado para os judeus) gigante, que dura um ano inteiro. E estamos em tempos, e estamos em época de nos perguntarmos quando podemos começar um Shabbat que traga paz, quando podemos começar um Shabbat que devolva a quem tem a sua dignidade violada em todos os continentes”, desenvolveu frei Fernando Ventura.

O programa da 47.ª Semana Bíblica Nacional dos Capuchinhos em Portugal, desde segunda-feira, incluiu conferências de D. António Couto, bispo de Lamego, sobre o tema ‘O Jubileu e o perdão das dívidas’, e D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, que abordou ‘O Jubileu e a libertação dos escravos e dos desprotegidos’; abordou também o Jubileu no Novo Testamento e o tema da esperança, que marca este Ano Santo.

PR/CB

Foto Agência ECCLESIA/MC, Eugénia Abrantes

A teóloga Eugénia Abrantes, que apresentou a reflexão ‘Depois do Sínodo, que sonhos e esperança este Jubileu nos poderá oferecer?’, esta quarta-feira, explicou que o desafio foi sobre a capacidade “de ter, pelo menos, este encontro face a face com Deus” para “ser presença no mundo”.

“Se eu encontro Deus, quando eu retomo a minha relação cara a cara com o outro, com a Terra, com a própria Igreja já não o faço de uma forma egoísta ou solitária, faço-a com o Deus trino em quem eu acredito e, portanto, é perante essa fidelidade, esse encontro, essa descoberta da minha essência, da minha vocação, que eu me posiciono frente a essas realidades e faço-o em corpo, faço-o em Igreja”, explicou, em declarações à Agência ECCLESIA.

A presidente do Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização adiantou que esta experiência tem de ser feita “na própria liberdade” de cada um, em primeiro, “porque Deus chama a todos e, para o cristão, desde o seu batismo, um processo “extremamente exigente, extremamente difícil”, mas quem o consegue alcança uma plenitude e tem uma visão face à humanidade, face à Terra, e face à Igreja “de uma noção da realidade muito mais amplificada”.

Frei Fernando Ventura explica que a Bíblia oferece ao conceito de esperança, sobretudo, “a ligação que se vai perdendo de quem é Deus”, como é Deus e como é cada um, e uns com os outros, o que é importante trazer à reflexão deste tempo, quando “faltam profetas para o mundo”.

“Cristo não é um remendo numa história furada, Cristo é a continuidade da revelação do mesmo Deus, é a concretização da esperança. Esta esperança que nasce e mora no coração de Israel, que nasce, sobretudo, num momento mais trágico, como um dos momentos mais trágicos da história de Israel, ao tempo do segundo exílio”, acrescentou o frade Capuchinho que apresentou a reflexão “o Jubileu do Apocalipse ‘Vi, então, um novo céu e uma nova Terra’”.

O Papa Francisco proclamou o Ano Santo 2025 com a bula ‘Spes non confundit’ (A esperança não desilude), e anunciou solenemente o início e o fim destas celebrações do 27.º jubileu ordinário da Igreja Católica: De 24 de dezembro de 2024 e 6 de janeiro de 2026.

“O jubileu em Roma fala-se em dezenas de milhões de pessoas, e pode-se perceber como é uma grande escola de fraternidade, é um grande apelo de solidariedade, de respeito mútuo e, ao mesmo tempo, de tolerância. Eu penso que o jubileu é um grande momento educativo para a paz mundial e para a convivência entre as diferenças”, assinalou o arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho.

 

Partilhar:
Scroll to Top