Ano Sacerdotal: mergulho na essência da vocação

Histórias de dois padres de diferentes gerações mas com o mesmo sentido de missão Já em pleno Ano sacerdotal, o Programa 70 x 7 foi ao encontro de dois sacerdotes que, com experiência e caminhos diferentes, se encontram no sentido da vocação.

Duas gerações que entendem o seu ministério à luz do discernimento que fazem, pela Igreja e pelas pessoas. Esta é "uma vida desafiante, cheia de surpresas, cheia de vida", afirma o Pe. Nélio Pita, pároco de São Tomás de Aquino, em Lisboa. A metros de distância, o Pe. Luís Alberto Carvalho, da paróquia de Fátima, diz saem hesitação que "o melhor que pode acontecer a alguém é cruzar-se com Jesus Cristo e fazer o que ele lhe pedir".

De uma família católica, mas sem uma ligação pessoal à Igreja, o jovem Nélio Pita acedeu ao pedido da mãe para, durante essa Quaresma, se confessar. Na altura, "disse ao padre que não concordava com a Igreja, que a considerava retrógrada. Ele concordando em algumas coisas comigo, acolheu-me e fez-me perceber que as minhas inquietações seriam legítimas para um adolescente de 16 anos". Foi nesse momento que Nélio Pita se aproximou do sacerdócio e o começou a entender como uma via possível para a sua realização pessoal.

"Descobri na Igreja uma mensagem que seria um projecto para a minha felicidade pessoal. Não uma Igreja portadora de um código de conduta que me oprimia, mas uma proposta para a minha felicidade que podia ser transmitida aos outros. Com esta descoberta a minha vida mudou", sintetiza.

Desafiado a estudar num seminário para ser sacerdote, inicialmente, a Nélio, pareceu-lhe uma ideia descabida. Mas o desafio foi sendo "trabalhado e ganhando raízes, até que tomou conta de mim e eu decidi experimentar", tinha então 19 anos.

Medidador de homens
Em 2000 é ordenado sacerdote. Na sua visão, o sacerdote é um mediador entre os homens, "enquanto instrumento e porta-voz de Deus, inserido num contexto que é a comunidade". O agora Pe. Nélio, deixou-se seduzir pelo "projecto de felicidade que Deus tem para cada homem" e, é nesse sentido, que se assume como mediador. Uma ponte que estabelece, sabendo que tem de manter com as pessoas uma relação privilegiada e sempre fundamentada na relação com Deus.

"Se for um padre que não tenha tempo para o fundamental, que é falar com Jesus, um padre que perceba mais de economia do que de Evangelho, é um mau mediador das coisas de Deus". Ao contrário, o Pe. Nélio entende ser fundamental "estar próximo das pessoas, ser-lhes seja acessível e comunicador".

É com base nas relações humanas que se faz caminho. Este, um caminho de exigência. "É preciso que as pessoas descubram a exigência da próprio Evangelho". O Pe. Nélio não acredita na moralização, procura antes, pela sua acção, que as pessoas façam uma adesão pessoal a Cristo. "O mais importante é o acolhimento a Jesus Cristo. Quem faz a experiência de Jesus, inevitavelmente, vai viver em conformidade com isso".

No entanto, reconhece que "muitas vezes se começa pelo contrário. Prega-se o moralismo sem uma conversão a Jesus", lamenta.

O sentido da vocação
O Ano Sacerdotal será para este jovem padre vicentino um ano de decisões. Actualmente à frente da paróquia de São Tomás de Aquino, esta pode ser uma oportunidade para mudar a sua actuação enquanto pároco. Este ano "vai obrigar a repensar a minha vida como ministro da Igreja e como prior desta paróquia", vaticina.

"Perdemo-nos em coisas várias. Na administração da paróquia, dos espaços, na economia, mas não específicos do ministério sacerdotal". Nesse sentido, o Pe. Nélio, afirma ser importante "centrarmo-nos no essencial". Tendo tanto para fazer "acabamos por relegar para segundo plano o que nos é próprio e único".

Privilegiando os momentos de contacto com as pessoas, a homilia é, para si, um momento especial de pregação. Para além da eucaristia, é na rua que vive o seu ministério. "Pregar é muito importante, e por isso, é necessária a preparação cuidada da homilia e toda a eucaristia". Mas há outras formas de fazer pregação que não a partir do púlpito. "Ambas não se excluem", acrescenta.

As crises na adolescência permitem-lhe hoje, uma aproximação a quem tem as mesmas dúvidas e ajudar nas descobertas que o próprio já fez.

O Pe. Nélio é um homem realizado que vive o sacerdócio na entrega aos outros. "É uma vida continuamente desafiante, mas é cheia de surpresas, cheia de vida, da vida dos outros. Não há nada melhor do que partilhar a vida com os outros, ajudar a crescer e a descobrir caminhos de felicidade".

Ser padre é "a realização de um projecto de Deus que se torna um projecto pessoal. Nessa medida, é um projecto de felicidade. Só quando realizamos os anseios mais profundos que Deus nos coloca no coração, é que somos felizes".

Ouvir a voz de Deus
A uma outra geração, pertence o Pe. Luís Alberto Carvalho, da paróquia de Fátima, em Lisboa que, este ano, celebra 30 anos de sacerdócio. Uma feliz coincidência em Ano Sacerdotal.

Luís Carvalho não encontra, na sua vida, um momento exacto que marca a decisão pelo sacerdócio. Apostado, principalmente, em ser um bom cristão, acabou por ser surpreendido. "Lembro-me de uma altura em que, pelos 15 anos, passou a ser claro que, independentemente do caminho da minha vida, cristão eu seria. A pergunta seguinte era «o que queria ele de mim?» Rezei muitas vezes a pedir para que não fosse padre", recorda divertido.

O então jovem interrogava-se sobre as suas capacidades para ser padre, sobre a constituição de família ou sobre o que o mundo lhe poderia oferecer. Fez uma caminhada interior, de coração aberto, que lhe trouxe todas as respostas.

"Certo e seguro, a última palavra eu sabia que seria a de Deus. Percebi que o que Deus queria me chegava através da voz da Igreja. Por muito que eu me torcesse ao princípio, a Igreja continuava-me a dizer que precisava de mim assim como eu era. Interiormente, fui-me disponibilizando, aceitando e acolhendo isso", recorda.

No dia da sua ordenação fez um contrato com Deus. "Disse a Deus que faria a minha parte da melhor forma que pudesse e soubesse, o resto era com ele".

Sem grandes planos ou dissertações sobre o que virá, vive a vida na certeza de que se confiar em Deus, tudo se resolverá. Esta foi uma confiança que se desenvolveu durante 30 anos, um caminho onde privilegiou o trabalho pastoral marcado pelas pessoas.

Trabalho humano
Desde cedo percebeu que "o trabalho pastoral teria de ser com pessoas". O contacto directo dava sentido ao ser padre, "servindo a Igreja, mas as pessoas directamente".

O Pe. Luís Carvalho recorda muitos trabalhos, projectos e desafios, todos feitos na relação de proximidade. Durante 13 anos esteve ligado à pastoral juvenil da diocese de Lisboa. Recorda trabalho variado, mas sempre com a marca colectiva. "Tinha sempre uma equipa com quem trabalhava".

Padre diocesano, este sacerdote alegra-se sempre por ter podido fazer vida em comunidade com outros sacerdotes. "Não se trata do muito que se faz em comum, mas o sentir que fazemos parte de um corpo e estamos todos a trabalhar no mesmo. Os momentos de partilha são também importantes.

O Ano Sacerdotal é uma oportunidade para aceitar o desafio de aprofundamento espiritual. "É um pretexto para uma motivação extra para percorrer um caminho de santidade que Deus pede a todos".

Em 30 anos, a forma física não será a mesma, mas na essência, está tudo lá. "Fisicamente e mentalmente, a capacidade de trabalho e o rendimento, sei que não são as mesmas, mas as motivações profundas, da alegria e das exigências de santidade que o ministério me faz, continuam muito vivos na minha vida e por isso, procuro dizer «não» a nada. Tenho conseguido".

Dois testemunhos de duas gerações de sacerdotes, não muito distantes entre si, e próximas na adesão de coração a um projecto maior que eles próprios.

Os vídeos com os depoimentos destes padres encontram-se disponíveis no canal da ECCLESIA no YouTube

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Agência ECCLESIA

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