D. António Vitalino diz que «a redescoberta da centralidade de Cristo» será o «grande meio para chegar aos irmãos mais afastados» Caminhar com São Paulo ao encontro de Cristo 1. Um Ano Paulino… O Santo Padre Bento XVI proclamou um ano jubilar dedicado ao Apóstolo S. Paulo. Este “Ano Paulino”, que terá lugar de 28 de Junho de 2008 até 29 de Junho de 2009, celebrará o bimilenário do nascimento do Apóstolo, colocado pelos historiadores entre os anos 7 e 10 d.C. Este será, certamente, um tempo propício para conhecer melhor a vida e a obra de S. Paulo, mas será, também, mais uma oportunidade a não perder, para voltarmos ao essencial da nossa fé cristã, a nossa identificação com Cristo. De facto, este ano deve ajudar-nos a colocar Jesus Cristo no centro da nossa vida, de modo que a nossa identidade se distinga principalmente pelo encontro, pela comunhão com Cristo e com a sua Palavra. Paulo é para nós um modelo a seguir. Ele já não vive para si, vive de Cristo e com Cristo (Fl 1, 21). Diante da cruz de Cristo não há ninguém que possa vangloriar-se. Para os cristãos não há outro motivo de glória que não seja a cruz do Senhor Jesus Cristo (Gl 6, 14). Neste sentido, o Apóstolo chega até a considerar os nossos sofrimentos como os “sofrimentos de Cristo em nós” (2 Cor 1, 5), de modo que “trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo” (2 Cor 4, 10). Assim, devemos viver a nossa vida quotidiana partindo sempre de uma grande intimidade com o Senhor Jesus, porque nada nos pode separar do seu amor (Rm 8, 39). A nossa vida cristã não nasce de ideias ou de doutrinas vãs e passageiras, mas alicerça-se numa rocha estável e segura que nenhuma tempestade pode destruir (Mt 7, 25). Dessa rocha segura tiramos toda a nossa força, toda a nossa esperança, porque, “se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?” (Rm 8, 31). Por isso mesmo, a nossa pertença radical a Cristo e o facto de “existirmos n’Ele” deve levar-nos a uma atitude de total confiança e de imensa alegria. 2. Para redescobrir a centralidade de Cristo… Portanto, nós não acreditamos num Deus distante, desconhecido ou vingativo. Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, “enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho” (Gl 4, 6), e deu-nos a possibilidade de O chamarmos Pai. Pelo Espírito Santo que recebemos no dia do nosso Baptismo e pelo qual podemos exclamar “Abbá, ó Pai”, nós entrámos num relacionamento único e singular de filiação com Deus. Nós não somos “estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus.” (Ef 2, 19). E esta família é a Igreja, corpo de Cristo, porque, “uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo” (1 Cor 10, 17). De facto, pela comunhão do Corpo de Cristo, todos somos um só em Cristo (Gl 3, 28). Desta forma, a redescoberta da centralidade de Cristo na nossa vida pessoal e na vida diocesana será o grande meio para chegarmos aos nossos irmãos mais afastados e para que, todos juntos, possamos edificar o Corpo de Cristo até que alcancemos à “medida da estatura de Cristo na sua plenitude” (Ef 4, 13). 3. guiados por catequeses paulinas… Na nossa Diocese, o início oficial da celebração do Ano Paulino terá lugar no próximo Dia Diocesano, dia 27 de Setembro de 2008, embora nada impeça que as Paróquias, que assim o entenderem, comecem as actividades já a partir do dia 28 de Junho. Para ajudar a uma vivência mais intensa deste ano foram elaborados uma pagela, com uma oração específica para o Ano Paulino, e um cartaz divulgativo, também próprio para este ano. Todos aqueles que os quiserem utilizar deverão contactar o P. João Paulo Quelhas. Será, ainda, posta ao serviço de toda a Diocese uma proposta da Conferência Episcopal Portuguesa para a vivência do Ano Paulino. Trata-se de um conjunto de 52 catequeses, editadas num belo livro, que pode ser adquirido na nossa Livraria Diocesana. Embora seja desejável seguir este itinerário proposto para todas as semanas do ano, sabendo que nem todas as comunidades e pessoas conseguirão reunir-se semanalmente, vamos adaptar algumas catequeses para os tempos litúrgicos principais do ano, a saber, 4 ou 5 catequeses para o Advento, 7 catequeses para a Quaresma e 7 catequeses para o tempo pascal. Também vai ser publicado um cartaz para ser afixado nas igrejas, instituições e serviços das dioceses, assim como uma estampa com uma bela oração. Os interessados deverão comunicar as quantidades pretendidas dos diferentes subsídios anunciados, a fim de poderem ser impressos ou encomendados de acordo com os pedidos. Também a Escola de Ministérios, que iniciará novamente a sua actividade no próximo mês de Setembro, se dedicará mais exaustivamente ao estudo da vida e da obra de S. Paulo e desenvolverá um conjunto de acções pelos diferentes Arciprestados, tendo em vista um maior conhecimento da Palavra de Deus, partindo das propostas do próximo Sínodo dos Bispos, que se realizará em Roma, com o tema a Palavra de Deus na vida da Igreja. 4. Discípulos e enviados de Cristo, para que n’Ele todos tenham vida S. Paulo, chamado e fascinado por Cristo, depois do encontro com Ele no caminho de Damasco, tornou-se um apóstolo incansável, ardoroso, corajoso e sem medo. Obrigado a explicar o seu direito e dever de ser apóstolo, dá-nos um belo testemunho da sua vida apostólica, que vale a pena ler e meditar, com a pergunta de fundo: o que aconteceu a Paulo para ser assim e o que nos falta a nós para não nos tornarmos semelhantes a ele? (2 Cor 4, 1 ss) A sua identificação com Cristo levou-o a exclamar: “se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16) Parafraseando o título da V Conferência Geral da Igreja da América Latina, em 2007, na Aparecida, também eu direi que a nossa Igreja diocesana precisa de se converter a Cristo, deixar-se fascinar por Ele, alimentar-se da sua Palavra e dos seus Sacramentos e ir ao encontro dos irmãos na família e na sociedade alentejana, para que todos n’Ele tenham vida, pois é Ele o único Salvador do mundo. Estas várias dimensões interpenetram-se: nem seremos missionários, se não conhecermos melhor a Cristo, nem seremos seus verdadeiros discípulos, se não formos suas testemunhas. Precisamos de viver um cristianismo mais conhecedor da Bíblia, mais orante e mais missionário. Oxalá este Ano Paulino seja um contributo forte para a preparação do Sínodo Diocesano, que há anos venho anunciando. Para terminar, convido-vos a todos a que celebremos com disponibilidade e entusiasmo este ano de graça e misericórdia dedicado ao Apóstolo S. Paulo, doutor das nações na fé e na verdade (1Tm 2,7), para que a nossa Igreja Diocesana seja cada vez mais uma “carta conhecida e lida por todos os homens” (2 Cor 3, 2). Que Nossa Senhora, de quem todos somos muito devotos, nos conduza, através da leitura e meditação dos textos e da vida de S. Paulo, à identificação mais profunda com seu Filho, Jesus Cristo, para nos tornarmos seus discípulos e enviados, para que n’Ele todos tenham vida, dotada daquelas qualidades essenciais como são a esperança, a fé, a alegria e a caridade. † António Vitalino, Bispo de Beja