Ano Pastoral com empenho renovado

Apresentação do Programa para a Arquidiocese de Braga O Concílio Vaticano II continua a ser a referência para os itinerários programáticos das Dioceses. No Decreto Christus Dominus, sobre o Múnus Pastoral dos Bispos indica que, em cada diocese, devem ser fomentadas várias formas de apostolado em “coordenação” e “íntima união” com quanto o Bispo, com os seus órgãos de governo, determine. Importa, diz o Concílio, “trabalhar em harmonia” para que “resplandeça mais a unidade da diocese” (nº 17). Por outro lado, recomenda que as diversas formas de apostolado “se adaptem convenientemente às necessidades actuais, tendo presente as condições humanas não só espirituais e morais, mas também as causas, demográficas e económicas”. Em confronto com esta doutrina, nunca reflectiremos o suficiente sobre o Programa Pastoral que a Arquidiocese prepara para todas as comunidades paroquiais. Ele deve acompanhar sempre as actividades habituais e suscitar iniciativas novas. A Abertura Solene do Ano Pastoral não significa que só agora tomamos consciência do Programa Pastoral da Arquidiocese. Queremos, sim, no início dum novo ano litúrgico, dar um alento novo às concretizações já em curso e, porventura, acordar algumas comunidades para este ritmo de vida. É um Programa que reclama ser interpretado e aplicado na diversidade de cada comunidade. Pretendo, neste horizonte e aqui, nesta região do interior, onde a solidariedade é, com mais evidência, necessária, lançar o alerta de que a Igreja terá de ser, na sua diferença específica, uma “Família Solidária” e trabalhar para que toda a sociedade humana, crente ou não, também o seja. Temos, por isso, um único caminho a percorrer fixando-nos em quatro dimensões como fonte de muitas e variadas iniciativas. 1 – Evangelizar a “Família Solidária” A missão evangelizadora da Igreja é a proclamação de que Cristo interpretou a vida como comunhão com o Pai e dom de si próprio aos irmãos, e este é um modelo para todos. A Igreja é, deste modo, o espaço da doação e entrega aos outros que se torna visível, qual “Igreja doméstica” (LG 11) na família como experiência de amor e fraternidade entre aqueles que a compõem. A Igreja protagoniza o anúncio da “solidariedade” de vidas em que cada um se sente responsável por todos, inventando modos renovados de pastoral que gerem a consciência de que a família só se entende na lógica duma doação permanente e solidária (Cfr. Conferência Episcopal Portuguesa, Família, esperança da Igreja e do mundo, 28). 2 – Celebrar a “Família Solidária” Como mistério de comunhão, a eucaristia dominical, centro da vivência cristã do Dia do Senhor, aponta para a celebração não individual mas em família. Ela deve tornar-se visível na celebrar do Domingo, “fonte de permanente renovação do amor”. É na Eucaristia que o Domingo, dia do repouso, do convívio, do diálogo faz o convite pastoral a intensificar a solidariedade familiar (Cfr. Ibidem, 32). 3 – Agir para uma “Família Solidária” A par da celebração os lares necessitam dum acompanhamento e solicitude da comunidade paroquial na vivência do seu matrimónio e dos valores que ele encerra. A Exortação Familiaris Consortio (nº 65) recorda que a Igreja deverá oferecer, duma maneira desinteressada, a participação nas dificuldades e problemas para que o amor continue a vencer os inúmeros problemas que quotidianamente surgem. Só uma acção discreta e persistente mostrará que somos família (Cfr. Ibidem, 41). 4 – Comunhão em “Família Solidária” O caminho que a Igreja sempre percorreu foi a comunhão e hoje quer ser “casa” e “escola” de comunhão. Para isso tornam-se necessários momentos e espaços de encontro e partilha, na família e na “família das famílias”, que são as comunidades paroquiais. São indispensáveis espaços de convívio familiar, diálogo sereno, enriquecimento cultural, partilha de conhecimentos, reflexão conjunta, leitura de conteúdos apropriados, etc… (Cfr. Ibidem, 31). Nesta acção conjunta, norteada pela fé e esperança num mundo melhor, gostaria que a solidariedade com a família e com a vida de todos, nas mais variadas situações desde a concepção até à morte, se tornasse uma ideia-força de todas as pessoas crentes. Ninguém se deve auto-marginalizar deste caminho julgando que os outros é que são os responsáveis por um amanhã com esperança; ninguém deve ser colocado à margem deste itinerário por qualquer razão que seja. Para isso, preparamos dois subsídios que esperamos sejam úteis: 1 – A nível doutrinal: Um desdobrável com uma mensagem-apelo; Uma Nota Pastoral subordinada ao tema Cultivar a vida, Uma reflexão a caminho do Natal que deverá tornar-se referência e preocupação, sempre, mas particularmente, nesta etapa em direcção ao Natal. 2 – A nível operativo Foi preparado um saco, que cada família deveria levar para casa para entregar numa eucaristia a indicar pelo pároco, com a sua partilha em favor das famílias mais carenciadas. Mas, se importa dar algo de material, peço que as famílias coloquem nesse saco as histórias de gestos concretos de solidariedade que, mantendo anonimato, serão divulgadas. Quantas coisas poderão ser realizadas e postas a circular demonstrando a força do amor cristão. Por outro lado, a solidariedade que queremos viver terá de ser discernida em comum, ou seja, peço que no saco sejam indicadas situações concretas a que urge responder na paróquia, na arquidiocese, no mundo. O amor é universal e co-responsável. Sabemos que os pobres sempre existirão mas não podemos votá-los ao esquecimento, ao abandono, ao “passar ao lado”, ao comodismo, à atitude fácil de pensar que “não é comigo”. Somos um único corpo e sofremos todos com cada um. Juntos descubramos os problemas, talvez envergonhados e camuflados, e, em comum, procuremos as causas e criemos, no momento oportuno, as instituições que respondam dum modo adequado e digno. No desdobrável quisemos colocar uma figura materna a abraçar uma criança. Não ignoramos o papel do pai mas não se pretendeu referir, neste quadro, a família. Pretendeu-se sublinhar a urgência de comunidades cristãs com coração, onde a ternura e o carinho se encontram com os mais abandonados tornando a comunidade bela como a fotografia que escolhemos. Em simultâneo, para o Fórum das Instituições, escolheu-se um logotipo onde se descortina um abraço “disfarçado” numa cruz. Sabemos que o desconforto e a pobreza do nascimento de Cristo, há dois mil anos, reflecte-se nas cruzes humanas. Estas continuam a proliferar em realidades conhecidas e desconhecidas. Não as queremos ignorar. Por Cristo, vamos “abraçar” o mundo das famílias para, na solicitude cristã, afastar as contradições dum mundo global. Como Cristo, queremos ser o Bom Samaritano que cuida e cura sem esperar recompensa. Em Cristo, vamos dar a vida para que todos a tenham em abundância. Visita Pastoral a Ruivães, Vieira do Minho 3 de Dezembro de 2006 + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz

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