Ano Novo: Bispos do Brasil manifestam «grave preocupação» com desafios do país e reiteram a «sacralidade da vida humana»

A terminar 2025, presidência do CNBB escreveu mensagem a apontar vitórias e conquistas, bem como retrocessos no campo da ética e do cuidado com os pobres 

Brasília, 30 dez 2025 (Ecclesia) – A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou esta segunda-feira uma “mensagem de esperança, mas ao mesmo tempo de grave preocupação” perante os desafios do país, a propósito do Ano Novo.

“Constatamos experiências positivas. Contudo, há também várias situações que nos entristecem e preocupam. No âmbito da convivência democrática, o ano de 2025 foi marcado por profundas tensões e retrocessos sociais, que deixaram feridas abertas no tecido social”, pode ler-se no texto.

Os bispos que compõem a presidência do CNBB evidenciam que “algumas experiências fragilizaram seriamente a confiança nas instituições e desafiaram as pessoas de boa vontade, que acreditam numa sociedade mais justa e fraterna”.

Entre os pontos alvos de crítica estão o elevado custo da dívida pública, o enfraquecimento da ética e o aumento da corrupção, a fragilização das instituições democráticas, a flexibilização de marcos legais e o desrespeito aos povos originários.

As ameaças à proteção ambiental, a persistente desigualdade social, o crescimento da violência, especialmente o feminicídio, o uso de drogas e o crescimento de “economias ilícitas”, a perda de decoro e a falta de responsabilidade por parte de algumas autoridades juntam-se também à lista.

Discursos de ódio, manipulação da verdade, violências, radicalismos ideológicos e interesses particulares não se podem sobrepor ao bem comum”, refere a mensagem.

A CNBB salienta que “tais realidades ferem a dignidade humana e obscurecem a vocação democrática do país”, acrescentando que “a presença do Deus que se faz criança, simples e próxima, renova” a sua “convicção de que nenhuma escuridão é definitiva e que a esperança é força transformadora para quem caminha em busca do bem comum”.

“Por isso, reafirmamos que nenhum projeto político pode se sobrepor à vida, ao respeito à pessoa humana, à justiça social e ao cuidado com a casa comum”, sublinham.

Os bispos reiteram a “a sacralidade da vida humana, desde a conceção até seu fim natural”, destacando que “ela é o primeiro dos direitos, dom gratuito de Deus, e não pode ser relativizada ou negociada”.

“Por isso, manifestamo-nos firmemente contra qualquer iniciativa de legalização do aborto no Brasil. Defender a vida, contudo, implica também lutar contra a fome, a miséria e a desigualdade. Defender a vida significa criar condições para que ‘todos tenham vida e vida em abundância’”, escreveram.

Na mensagem, a CNBB menciona também as notícias que trouxeram felicidade no ano de 2025, nomeadamente nas áreas da saúde, com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde; da economia, com a retirada de algumas tarifas norte-americanas sobre vários produtos brasileiros, a queda do desemprego, a estabilidade da inflação e o crescimento do PIB.

Os bispos expressam também orgulho pela realização da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP30), em Belém do Pará, e pelo país consolidar a “sua liderança em energias renováveis”.

“A Igreja fez-se presente, não como protagonista político, mas desejosa de contribuir para a construção de caminhos comuns diante da crise climática e o cuidado com a ‘Casa Comum’. Aumentou significativamente o investimento privado em sustentabilidade, em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG)”, indicam.

Sob inspiração da passagem bíblica “a esperança não dececiona” (Rm 5,5), a mensagem destaca a democracia como “património do povo brasileiro” que “precisa de cuidado e promoção” e que, embora imperfeita, “é terreno fértil onde a justiça e a verdade podem se abraçar e florescer”.

Como discípulos e discípulas de Jesus Cristo, somos chamados a ser testemunhas credíveis e exemplares, artesãos da paz, construtores de pontes, promotores da caridade política e da responsabilidade social. A nação precisa reencontrar o caminho da pacificação, do diálogo e do respeito mútuo!”, assinala a CNBB.

Os bispos desejam e trabalham “pela paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante, por um mundo e por um ser humano pacificados e reconciliados no amor”.

“Que o Natal acenda em nossos corações a coragem de recomeçar, e que o ano de 2026 nos encontre firmes no testemunho cristão, com o desejo de mudar o mundo, empenhados na oração, nutridos pela Palavra e pela Eucaristia”, exprimiram.

LJ/OC

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