Rui Osório O ano de 2005 foi, para a Igreja, muito rico em mensagens e simbolismos. Ano da Eucaristia, por iniciativa de João Paulo II, de Outubro de 2004 a Outubro de 2005, centraria, teológica e pastoralmente, a Igreja no essencial da sua natureza e missão. Logo do início do ano, o apelo à solidariedade dos católicos com as vítimas dos tsunamis no sudeste asiático teve correspondência generosa, em partilha fraterna de bens. Em Portugal, as novas eleições legislativas mereceram a atenção do magistério episcopal e a reflexão dos cristãos, desejosos de que o país e seus legítimos representantes “pensem em grande”, para a defesa e promoção do bem comum. Algumas perdas avivaram a confiança na ressurreição, apesar da dureza da morte da Irmã Lúcia, última vidente das aparições de Nossa Senhora em Fátima; do saudoso Papa João Paulo II, cujas exéquias, simples e belas, em Roma foram acompanhadas pelo Mundo inteiro; e do assassínio do Irmão Roger, fundador da Comunidade de Taizé, cuja prática ecuménica é farol e guia para todos os cristãos que lutam pela unidade, apesar da diversidade das suas comunidades, despindo-se de preconceitos e purificando o coração. A eleição do novo Papa, cardeal Ratzinger, colaborador fiel e amigo de João Paulo II, foi interpretada como continuidade do longo pontificado anterior, mas garantindo à Igreja Católica a serenidade de uma transição pacífica e pacificada. Rigoroso nas questões doutrinais e mais contidamente mediático do que o seu antecessor, ainda assim passou com distinção o teste da Jornada Mundial da Juventude, em Colónia (Alemanha). A celebração do 40.º aniversário do encerramento do Vaticano II (1962-1965) foi um excelente pretexto para que os católicos, guiados pelo entusiasmo de Bento XVI, reconheçam que ainda há caminhos por andar na concretização das orientações teológico-pastorais do Concílio. Factos ainda assinaláveis na vida eclesial: a divulgação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica e do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Nem tudo foram rosas. Um dos fracassos maiores, no Velho Continente, talvez tenha sido a perda do dinamismo e da crise da União Europeia em que também a Igreja Católica tanto apostou, mas sem êxito, para que, aqui, se reconheça, de direito e de facto, a matriz cristã que forma e informa o património europeu. Sem desrespeito pela justa autonomia das realidades terrestres, é mau que a Europa, em nome de um secularismo frenético e fundamentalista, perca sua alma. Em Portugal, teve relevância especial a nova fase, em Lisboa, depois de Viena e de Paris, do Congresso Internacional para a Nova Evangelização. Sinal vivo de que a Igreja, hoje, tem muito a dizer e a fazer para que homens e mulheres tornem mais humanas as cidades onde vivem e convivem. Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro