Contemplar a cruz com paixão
O Evangelho do Domingo de Ramos convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus. Na cruz revela-se o amor de Deus, que não guarda nada para si, mas que se faz dom total para nos salvar.
O grande poeta Dante definiu o evangelista Lucas como “o escriba da misericórdia de Deus”. No relato da Paixão, sem esquecer os sofrimentos de Jesus e a sua angústia na agonia do monte das Oliveiras, Lucas continua a revelar até ao fim a misericórdia do Pai.
Primeira afirmação de Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Jesus não se limita a perdoar, vai mais longe. Sabe que a fonte do amor e do perdão está no Pai.
Segunda afirmação de Jesus, como resposta ao bom ladrão: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”. O perdão do Pai não suporta qualquer adiamento nem qualquer exclusão.
Terceira afirmação de Jesus, que é um grito de infinita confiança no seu Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Jesus acolheu sempre, na liberdade da sua consciência humana, o amor do Pai. No momento supremo da sua vida, manifesta a sua adesão ao amor infinito do Pai, à sua vontade de salvação e de misericórdia.
Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação do amor de Deus. Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado e incompreendido, continuou a amar. Ele quis partilhar connosco esta boa notícia que enche de alegria o nosso coração, a mais espantosa história de amor que é possível contar.
Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência e a guerra, os que são explorados, excluídos e privados de direitos e de dignidade. Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que as pessoas continuem a crucificar outras pessoas. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor.
O cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
Levados pela Palavra, vivamos a Semana Santa na oração e na contemplação, com o olhar fixo em Jesus Cristo, a essência do nosso ser e da comunhão de irmãos em Igreja.
Manuel Barbosa, scj
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