E nós, que devemos fazer?
«E nós, que devemos fazer?» No Evangelho do terceiro domingo do Advento, esta questão é posta três vezes a João Baptista, pelas multidões, pelos publicanos e pelos soldados.
João não parece ser muito exigente nas respostas, nem aponta para coisas extraordinárias. Basta deixar que a nossa vida de todos os dias seja levada pela Boa Nova de Jesus. Isso implica conversão, transformação, em três aspetos, segundo o Evangelho.
Para as multidões de então e cada um de nós hoje, é preciso sair do nosso egoísmo e aprender a partilhar. Os bens que temos à nossa disposição são sempre um dom de Deus que pertencem a todos: ninguém tem o direito de se apropriar deles em seu benefício exclusivo. As desigualdades chocantes, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem vive abaixo do limiar da dignidade humana e o egoísmo que nos impede de partilhar com quem nada tem são obstáculos intransponíveis que impedem o Senhor de nascer no meio de nós. As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino que é Jesus?
Para os publicanos de então e cada um de nós hoje, é preciso quebrar os esquemas de exploração e de imoralidade e proceder com justiça. Os publicanos extorquiam dinheiro de modo duvidoso, despojando os mais pobres e enriquecendo de forma ilícita. Que dizer dos modernos esquemas imorais, mesmo se lícitos, de enriquecimento rápido? Que dizer da corrupção, do branqueamento de dinheiro sujo, da fuga aos impostos, das taxas exageradas cobradas por certos serviços, das falcatruas? Será possível prejudicar conscientemente um irmão ou a comunidade inteira e ao mesmo tempo acolher “o Senhor que vem”?
Para os soldados de então e a cada um de nós hoje, é preciso renunciar à violência e à prepotência e respeitar absolutamente a dignidade dos nossos irmãos. Pensemos nos atos de violência, que tantas vezes atingem inocentes e derramam sangue ou provocam sofrimento e injustiça, nos atos gratuitos de terrorismo, ainda que sejam mascarados de luta pela libertação, na exploração de quem trabalha, na recusa de um salário justo, na exploração de imigrantes estrangeiros, nas prepotências que se cometem nos tribunais, nas repartições públicas, na própria casa e, tantas vezes, nas receções das nossas igrejas. Nestes quadros, é possível acolher Jesus?
Vivamos o Evangelho que nos avisa que o cristão é batizado no Espírito, recebe de Deus vida nova e tem de viver de acordo com essa dinâmica.
Não nos cansemos de escutar, sem fugir à questão: E nós hoje, que devemos fazer? Ser e estar sempre com o coração aberto ao Coração misericordioso de Deus e solidário aos irmãos, praticando sempre a ternura de Deus! Sem mais! Nessa atitude tudo somos e temos!
Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org