Se não vos arrependerdes… convertei-vos!
Conversão é o dinamismo que marca a liturgia da Palavra do terceiro domingo da Quaresma.
Na primeira leitura, Deus revela-Se a Moisés no monte Horeb, chama-o e envia-o em missão para conduzir o povo à salvação, em permanente peregrinação de conversão.
Na segunda leitura, São Paulo, aludindo a esta caminhada, avisa-nos que o mais importante não é o cumprimento de ritos externos e vazios, mas a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com Ele numa comunhão íntima.
No Evangelho, Jesus convida-nos à transformação radical da existência e à mudança de mentalidade, a recentrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
Se não vos arrependerdes… é interpelação insistente e constante que Jesus faz às nossas vidas, desde o início da sua pregação. Ele apela à conversão radical a partir das profundas raízes do nosso ser, onde habita o Coração de Deus. A conversão é fonte de vida, pois faz-nos voltar para Deus.
A pessoa é como a figueira plantada no meio da vinha: pode ser que, durante anos, não dê frutos. Mas Deus, como o vinhateiro, tem paciência e continua a esperar.
Deus vai ainda mais longe: dá-nos os meios para a conversão. Jesus não apela somente à conversão, mas propõe-nos o caminho a empreender para amar a Deus e amar os irmãos. A paciência de Deus não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que vivamos. Paciência e confiança estão profundamente interligadas: Deus confia em nós, acredita que podemos mudar a nossa conduta passada, voltando-nos para Aquele de quem por vezes nos afastámos.
Convertei-vos! Um monge do Oriente compara o crente a uma casa. Se sou um batizado, generoso e comprometido, então dou a Cristo a chave da porta de trás para que Ele entre na minha casa como íntimo, como Ele quer. Se O deixar entrar pela porta da frente, quando outros estão na casa, então ficaremos por gestos de delicadeza e conversas de rotina.
Nesta imagem, é à porta de trás da nossa casa que Cristo vem bater. Sobretudo durante os quarenta dias da Quaresma e nesta terceira etapa da caminhada para a Páscoa, somos chamados a continuar a repensar a nossa existência e a acolher o dom da conversão.
Deus propõe-nos a libertação da escravidão dos egoísmos e dos pecados, para que em nós se manifeste a vida em plenitude, que só pode ser vida de Deus em nós.
Ponhamos o nosso coração no Coração de Deus, abrindo-nos aos outros, sempre na fecundidade do amor de Deus derramado nos nossos corações pelo seu Espírito.
Manuel Barbosa, scj
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