Ano C – 26.º Domingo do tempo comum

Partilhar os bens recebidos

A liturgia deste 26.º domingo do tempo comum faz-nos pensar de novo sobre a nossa relação com os bens deste mundo: não nos pertencem de forma exclusiva, são dons que Deus colocou nas nossas mãos para que os administremos e partilhemos, com gratuidade e amor.

As palavras do profeta Amós são muito provocadoras: denuncia violentamente uma classe dirigente ociosa, que vive no luxo à custa da exploração dos pobres e que não se preocupa minimamente com o sofrimento e a miséria dos humildes; anuncia que Deus não pactua com esta situação, pois este sistema de egoísmo e injustiça não tem nada a ver com o seu projeto para os homens e para o mundo.

Na parábola do rico e do pobre Lázaro, uma das parábolas da misericórdia, o Evangelho oferece-nos uma catequese sobre a posse dos bens. É a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro, que, em hebraico, significa “Deus socorreu”. É o que Jesus faz pelo seu amigo. O rico é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins sumptuosos e quotidianos. Mas não tem nome, é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres.

Há uma frase central neste relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. Esse filho simboliza o homem pecador fechado na sua solidão, o pobre Lázaro é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre.

Temos aqui uma descrição muito realista do que são as nossas relações, muitas vezes anónimas e indiferentes. Mesmo com os mais próximos de nós, acontece que não os vemos verdadeiramente, a ponto de nos esquecermos de lhes dizer bom dia e de estarmos atentos ao que são e ao que fazem. Jesus recorda-nos que, para Ele e para seu Pai, cada ser humano é olhado como único, ninguém é descartável, como nos diz constantemente o Papa Francisco.

A Palavra de Deus desafia-nos com toda a sua força profética. Diante de todos os desastres do mundo, temos um olhar diferente para com todos os “Lázaros” da nossa sociedade ou ficamo-nos por um simples relance no ecrã da televisão ou nas redes sociais? Ouvimos os golpes discretos à nossa porta? Ou serão somente cães a dar-lhes assistência?

Levados pela Palavra de Deus, partilhemos os bens que recebemos, contribuindo assim para eliminar o enorme abismo entre ricos e pobres, a todos os níveis: material, espiritual e cultural.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org

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Agência ECCLESIA

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