Acolher bem e servir melhor
Hospitalidade, acolhimento, serviço. São as atitudes propostas nas leituras deste 16.º domingo do tempo comum, que só fazem pleno sentido a partir de um verdadeiro encontro com Jesus e na escuta da Palavra de Deus.
Recebemos hoje três exemplos destas atitudes: o patriarca Abraão, modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que encontra a figura do próprio Deus no hóspede que entra na sua tenda; o apóstolo Paulo, para quem Cristo, na sua vida, palavras e propostas, é a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a vida; Maria, a indicar que acolher Deus na sua casa não é tanto embarcar num ativismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, para O escutar e acolher.
Esta página do Evangelho sobre Maria e Marta serviu, muitas vezes, para rebaixar a vida ativa, simbolizada por Marta, e ressaltar a vida contemplativa, simbolizada por Maria. Esta distinção não estava no espírito de Jesus nem do evangelista Lucas.
Recordemos as palavras de Jesus: “Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
Com esta afirmação, Jesus não despreza o trabalho de Marta. Ele quer chamar a atenção para aquilo que é o mais importante de tudo: “O homem não vive só de pão, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. O pão para o corpo é indispensável, a Palavra de Deus é ainda mais vital para aquele que quer encontrar o verdadeiro sentido da sua vida.
A autenticidade da nossa contemplação verifica-se pela qualidade do nosso empenho na construção de relações fraternas, em amar como Deus nos ama. Colocarmo-nos na escuta da Palavra de Deus reenvia-nos à nossa vida quotidiana. É à luz de Jesus que poderemos estar na escuta verdadeira dos outros e no seu acolhimento.
Reservar tempo para escutar a Palavra, para nos retirarmos no segredo do nosso coração e para rezar não é perder tempo. É enraizar a nossa ação no único terreno capaz de a vivificar verdadeiramente, para que ela dê fruto na vida eterna.
Ao longo desta semana, procuremos acolher e servir, sempre na escuta da Palavra (nunca é demais repetir!), aos pés de Jesus e no seu Coração. Não é preciso opor Marta e Maria, mas uni-las, vivificar o serviço de uma pela escuta atenta da outra.
Este tempo de verão pode ser propício para recentrar os andamentos da nossa vida neste essencial encontro com Cristo, do qual decorrem as atitudes de acolher bem e servir melhor.
Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org