Cuidar da vinda, cuidar da vida
Começamos hoje um novo ciclo litúrgico do Ano C, em primeiro domingo do Advento, tempo da vinda do Senhor. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado.
Segundo as belas palavras de Jeremias, o Senhor oferece-se a nós como «um rebento de justiça», como a «promessa de felicidade» que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, Ele age no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. «Vigiai e orai em todo o tempo», a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.
Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações que parecem afastadas uma da outra, mesmo contraditórias.
Palavra do Livro de Jeremias: «Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá».
Palavra do Evangelho: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo».
Ora o universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupções vulcânicas, tsunamis, meteoritos, furacões… O sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. Nesta aparente contradição, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.
Na segunda leitura, Paulo lança-nos um forte apelo: «Irmãos, o Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos».
Ao longo desta primeira semana de Advento, procuremos ir ao encontro de alguém que já não tem força para esperar: esperar um trabalho, esperar uma saúde melhor, esperar uma reconciliação… Que lhe vamos dizer? O Advento é o tempo propício para ajudar a erguer-se de novo, o tempo de voltar a dar gosto à vida que germina.
Que isso aconteça no apelo de Jesus a «orar em todo o tempo». Rezar sempre, em cada dia, alguns minutos, um tempo mais prolongado, um tempo de retiro…
Cuidar a nossa vida de oração é cuidar da vinda do Senhor aos nossos corações, é cuidar com amor e atenção de quem anda próximo de nós. Que assim seja, sempre e sem cessar.
Manuel Barbosa, scj
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