Passar da indiferença à proximidade
O Evangelho do sexto domingo do tempo comum apresenta-nos o encontro de um leproso com Jesus. A maldição que atingia os leprosos era total: mortos vivos, excluídos dos lugares habitados, proibidos no templo e na sinagoga, considerados impuros aos olhos dos homens e de Deus.
Um deles quebra as proibições e aproxima-se de Jesus que ousa um gesto impensável: estende a mão e toca o infeliz, tornando-se Ele próprio, na prática de então, também impuro.
Jesus toma nas suas mãos o mal e o sofrimento deste homem. Tira-o da lepra, liberta-o da exclusão, de toda a impureza. O leproso pode assim reencontrar a companhia dos outros e de Deus.
Agora é Jesus que “não podia entrar abertamente numa cidade. Era obrigado a evitar os lugares habitados”. É como se Jesus tivesse tomado o lugar do leproso. Jesus toma sobre Ele as nossas faltas e os nossos sofrimentos, toma o nosso lugar para absorver na sua pessoa e no amor do Pai todas as nossas misérias.
Em Jesus Cristo encontramos toda a nossa dignidade de homens e de mulheres livres, capazes de entrar de novo em relação uns com os outros e, sobretudo, de nos aproximarmos de novo de Deus, sem qualquer medo.
Às vezes há pessoas que inventam mecanismos de exclusão, segregação e sofrimento, em nome de um Deus severo, intolerante e distante, incapaz de compreender os limites e as fragilidades do homem. Trata-se de um atentado contra Deus.
O Deus que somos convidados a descobrir, a amar e a testemunhar no mundo é o Deus de Jesus Cristo, que vem ao encontro de cada um de nós e Se compadece pelo nosso sofrimento, que nos estende a mão com ternura e nos purifica, que nos oferece uma nova vida e nos integra na comunidade do Reino, nessa família onde todos têm lugar e onde todos são filhos amados por Deus.
Seguindo Jesus nas suas atitudes de proximidade, de solidariedade e de aceitação, como é que lidamos com os excluídos da sociedade ou da Igreja? Procuramos integrar e acolher os estrangeiros, os marginais, os pecadores, os descartados… ou ajudamos a perpetuar os mecanismos de exclusão e de discriminação?
O Evangelho diz ainda que o leproso, apesar da proibição de Jesus, “começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”. Marcos sugere, desta forma, que o encontro com Jesus transforma de tal forma a vida da pessoa que ela não pode calar a alegria pela novidade que Cristo introduziu na sua vida e tem de dar testemunho.
Que assim seja também connosco, nesta semana que antecede o início de um tempo importante na vida da Igreja, o tempo da Quaresma, durante o qual somos convidados a passar da indiferença à proximidade, sempre com o coração pleno de misericórdia, aberto a Deus e aos irmãos.
Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org