Profetas na alegria do Evangelho
Que escuta fazemos da Palavra de Deus neste 14.º domingo do tempo comum? Essencialmente que Deus chama continuamente pessoas para serem testemunhas do seu projeto de salvação. Deus escolhe e envia.
A primeira leitura apresenta-nos um extrato do relato da vocação do profeta Ezequiel: chama um homem normal, com os seus limites e fragilidades, para ser a voz de Deus no meio do seu Povo.
Na segunda leitura, recorrendo ao seu exemplo pessoal, Paulo assegura aos cristãos de Corinto que Deus age e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos finitos e limitados.
O Evangelho reafirma o mesmo, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando não queremos entender esta realidade, facilmente perdemos a oportunidade de descobrir Deus que vem ao nosso encontro e de acolher os desafios que nos apresenta.
Afinal, o que é um profeta? Geralmente, pensa-se em alguém que prevê e anuncia o futuro. Profetas desses não faltam hoje. Ora, como Ezequiel, o verdadeiro profeta está habitado pelo Espírito Santo para ser enviado aos seus irmãos em humanidade e lhes anunciar a Palavra de Deus.
Mas não se trata de uma missão de descanso. A Palavra de Deus inquieta sempre, porque convida os homens a descentrarem-se de si mesmos. Ezequiel é enviado a um povo de rebeldes, que têm o rosto duro e o coração obstinado. Nestas circunstâncias, não é fácil fazer-se ouvir.
A missão do profeta não se exerce por prazer. Jesus fez a experiência. Basta ver a atitude dos seus conterrâneos. A própria família tinha tentado impedi-lo de falar.
Pelo batismo e confirmação, todos somos chamados a ser profetas, a deixarmo-nos habitar pelo Espírito, pela Palavra de Deus, para nos tornarmos arautos e testemunhas onde vivemos.
O Concílio Vaticano II, recuperando esta missão profética dos batizados, declara que todos recebemos o sentido da fé e a graça da Palavra, a fim de que brilhe na nossa vida quotidiana a força do Evangelho.
Como cristãos não devemos esconder este testemunho e esta palavra no segredo do nosso coração, mas devemos exprimi-lo também através das estruturas da vida do mundo.
Há que tomar a sério a vocação profética. Qual é a minha vocação, a que é que Deus me chama, aonde me envia? Como se manifesta em mim a sua graça? Quais as dificuldades que encontro e como as ultrapassar?
Tomar a sério a vocação profética é assumir a missão nos vários espaços e situações da Igreja e da sociedade. Como nos convida constantemente o Papa Francisco, somos convidados a ser profetas transformados na alegria do Evangelho para o anunciar com ousadia e entusiasmo.
Manuel Barbosa, scj
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