Iluminar com o sabor de Cristo
A Palavra de Deus deste quinto domingo do tempo comum convida-nos a refletir sobre o compromisso cristão para a transformação do mundo, de ser luz que brilha na noite do mundo e que aponta no sentido da plenitude de Deus entre nós.
No Evangelho, Jesus exorta os seus discípulos a não se instalarem na mediocridade, no comodismo, no “deixa andar”; e pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao mundo e que testemunha a perenidade e a eternidade do projeto salvador de Deus; também os exorta a serem uma luz que aponta no sentido das realidades eternas, que vence a escuridão do sofrimento, do egoísmo e do medo, e que conduz ao encontro de um Reino de liberdade e de esperança.
A segunda leitura avisa que ser luz não é colocar a esperança de salvação em esquemas humanos de sabedoria, mas é identificar-se com Cristo e interiorizar a loucura da cruz que é dom da vida.
A primeira leitura apresenta as condições necessárias para sermos luz. Vale a pena reler Isaías: “reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante”. Se levarmos a peito estes apelos tão exigentes e atuais do profeta Isaías, seremos autêntica luz da paixão do meio-dia, luz a brilhar nas trevas, luz a iluminar o mundo.
O profeta dá-nos indicações muito práticas para responder à questão essencial: como é que podemos ser uma luz que acende a esperança no mundo e aponta no sentido de uma nova terra, plena de felicidade?
Não é com liturgias solenes ou com vistosos ritos litúrgicos, muitas vezes estéreis e vazios; mas é com uma vida onde o amor a Deus se traduz no amor ao irmão e se manifesta em gestos de partilha e fraternidade, de libertação e esperança, de justiça e paz.
Não se está a dizer que os momentos de oração e de encontro pessoal com Deus sejam supérfluos, inúteis e desnecessários; o que se diz é que os ritos em si nada significam se não corresponderem a uma vivência interior que se traduz em gestos concretos de compromisso com Deus e com os seus valores. De nada vale multiplicar ritos, orações solenes e celebrações se não tiverem a devida correspondência na vida de relação com os irmãos.
Em mais uma semana, como vamos dar sabor e iluminar as nossas vidas partilhadas com os irmãos e os próximos do nosso caminhar? O gosto da presença e da partilha, do acolhimento e da proximidade, da misericórdia e da caridade, como nos convida Isaías, têm o sabor de Cristo ressuscitado?
Oxalá que sim, para que nos tornemos “luz diante dos homens” e iluminemos a vida com o sabor de Cristo em nós.
Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org