Médica partilhou «a esperança com uma perspetiva realista» em conferência sobre os tempos de doença
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Ponta Delgada, Açores, 20 fev 2025 (Ecclesia) – A médica Isabel Galriça Neto afirmou que “não existe o direito a ser morto”, na Constituição Portuguesa existe “o direito a cuidados de saúde”, e “dezenas de milhares de portugueses não têm acesso”, numa conferência em Ponta Delgada (Açores).
“Independentemente da fase da doença em que estejamos, esse direito não está cumprido para 70% dos portugueses que precisam de ser cuidados no fim da sua vida. E o fim da sua vida não são os últimos dias, podem ser meses, podem ser anos”, disse a especialista em cuidados paliativos, esta quarta-feira, 19 de fevereiro, cita o sítio online ‘Igreja Açores’, da Diocese de Angra.
Isabel Galriça Neto explicou que Portugal “o direito a morrer não está vertido na Constituição”, mas o direito a cuidados de saúde, “independentemente da fase da vida em que se encontram”, “por muito que queiram criar uma lei a esse propósito”.
“Há uma dificuldade que todos nós temos de nos confrontarmos com a dor, a nossa e a dos outros. Mas, é preciso dizer que uma sociedade moderna cuida dos mais frágeis, não evita os mais frágeis, não pensa que resolve o problema do sofrimento em fim de vida eliminando as pessoas que têm esse problema”, desenvolveu, e desafiou as pessoas a “reclamar, junto das organizações políticas, junto das estruturas de saúde”.
Para a médica especialista em cuidados paliativos “é preciso falar e continuar a falar” sobre estes cuidados, “que são cuidados de saúde”, porque as pessoas têm direito a eles, “quando têm doenças graves e avançadas, independentemente do seu prognóstico, independentemente da sua idade”, e lembrou que essas situações acontecem em crianças também”.
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Isabel Galriça Neto apresentou o tema ‘Pode haver esperança nos tempos de doença? E que esperança é essa?’, no coro alto do Convento da Esperança – Santuário do Senhor Santo Cristo, nas comemorações dos 260 anos da Irmandade do Senhor Santo Cristo, igreja jubilar da ilha de São Miguel (Açores).
“Gostaria de trazer a esperança com uma perspetiva realista, na medida em que há uma expectativa de atingirmos um objetivo, para as pessoas que estão numa situação de doença mais grave, numa situação como aquela que eu tenho vivido neste último ano, ou em situações como as que eu tenho acompanhado nos últimos 30, no âmbito dos cuidados paliativos” .
Segundo a médica, “às vezes, há a ideia que é incompatível falar de esperança e de cuidados paliativos”, e afirmou que na doença há momentos “de muito desespero e de alguma desesperança”, e a esperança “é uma expetativa de atingir um objetivo”, divulga o portal online ‘Igreja Açores’.
“Estamos a falar de objetivos realistas que devemos propor às pessoas doentes e em situação de vulnerabilidade para atingirem. Olhe, por exemplo, poderem pensar que em determinado dia, que são tão frágeis, são capazes de se levantar, sair da cama e ir até à sala. Essa pode ser uma esperança e uma esperança concreta”, acrescentou Isabel Galriça Neto, enfrenta um cancro da mama agressivo, diagnosticado em fevereiro de 2024.
Para além desta conferência no Convento da Esperança, Isabel Galriça Neto falou aos padres da Diocese de Angra sobre ‘a esperança, uma alavanca no sofrimento e na doença’, no último dia das Jornadas de Formação do Clero 2025, e participou na mesa-redonda ‘a esperança na doença, na morte e no luto’, esta quinta-feira, 20 de fevereiro, no Centro Pastoral Pio XII em Ponta Delgada.
CB/OC
![]() Ao longo de três dias, desde terça-feira, os padres de Angra ouviram as palavras de abertura do bispo diocesano, D. Armando Esteves Domingues, e, segundo o programa da formação, o presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, Luís Garcia, o patriarca emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente, o reitor do Seminário Maior de Coimbra, padre Nuno Santos, e refletiram sobre a carta encíclica ‘Dilexit Nos’, do Papa Francisco, com o padre José Júlio Rocha, o vigário episcopal para o clero. O padre Nuno Santos apresentou dois temas, ‘a esperança que brota do Evangelho’, e ‘o conteúdo e o tempo da Esperança Cristã’, a partir do episódio do encontro de Jesus com a mulher adúltera , onde afirmou que saber “acompanhar uma pessoa já é levar esperança”, porque “a questão do tempo hoje é uma questão qualitativa”.
“Uma das primeiras regras é ouvir, não julgar, olhos nos olhos, acompanhar as pessoas, estar ao lado delas, fazer silêncio com elas, escutar a sua dor, e depois fazer caminho com elas, porque só assim é que nós depois podemos dar um tempo novo, um futuro, no presente dessas pessoas”, desenvolveu o reitor do Seminário Maior de Coimbra, citado pelo sítio online ‘Igreja Açores’, esta quarta-feira, um dia que o clero açoriano rezou “especialmente” pela saúde do Papa Francisco. |
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