Maria do Natal Sousa explica que, «cada vez mais as problemáticas são sistemáticas e difíceis», a pobreza «não é só a falta material»»
Angra do Heroísmo, Açores, 16 nov 2024 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas da ilha Terceira, na Diocese de Angra (Açores), alerta que têm “uma nova franja de pobres”, o que “preocupa” a instituição da Igreja Católica que procura estar ao lado de quem precisa e das entidades.
“Temos novos desafios com pessoas que tinham a sua vida equilibrada e, de repente, por uma situação de saúde ou situação financeira não conseguem superar dificuldades e mesmo sendo trabalhadores e tendo alguns rendimentos, não conseguem fazer face às suas despesas”, disse Maria do Natal Sousa, numa entrevista no âmbito do Dia Mundial dos Pobres 2024, ao programa ‘Igreja Açores’ da Diocese de Angra.
“Temos aqui uma nova franja de pobres e isso preocupa-nos e é um desafio da nossa intervenção diária”, acrescentou a presidente da Cáritas da ilha Terceira, nestas funções há um ano.
Segundo Maria do Natal Sousa, a instituição católica está “perto dos pobres e daqueles que com eles trabalham”, porque cooperam “com todos”, uma “ação bastante intensa” com desafios permanentes, mesmo que a ação da Cáritas seja cada vez mais preventiva, aposta na educação e capacitação de pessoas vulneráveis, com uma atenção especial a crianças e jovens em risco.
“Cada vez mais as problemáticas são sistemáticas e difíceis e hoje a pobreza não é só a falta material. Ela está associada a outros fatores de exclusão como as dependências”, acrescentou.
A Igreja Católica celebra o Dia Mundial dos Pobres 2024 este domingo, dia 17 de novembro, uma data instituída anualmente no penúltimo domingo do ano litúrgico, este ano tem como tema ‘A oração do pobre eleva-se até Deus’, do livro bíblico de Ben-Sirá.
O Papa Francisco denunciou as consequências de uma “política das armas”, que alimenta as guerras e provoca novos pobres, em todo o mundo, na sua mensagem para o VII Dia Mundial dos Pobres.
“O que o Papa nos pede é que estejamos juntos dos pobres e olhemos para eles para além das inúmeras problemáticas que envolvem as suas vidas. Para além das questões materiais, importantes, há que ver que o pobre é uma pessoa que vai para além das suas circunstâncias e a oração ajuda-nos a estar sensíveis à sua dor, a estarmos perto deles”, desenvolveu Maria do Natal Sousa.
Francisco alerta que “a caridade sem oração corre o risco de se tornar uma filantropia que rapidamente se esgota”, na sua mensagem, e, para a presidente da Cáritas da ilha Terceira “este é, sem dúvida, o maior desafio”.
“A aceitação do pobre quando ele está ligado a uma problemática social diferente. Muitas vezes não conseguimos ver a pessoa para além da sua ação e do seu comportamento e se eu não conseguir ver essa pessoa para além disso não a conseguirei ajudar e ela não consegue sair da pobreza”, acrescentou.
Segundo Maria do Natal Sousa, ainda há “dificuldade em aceitar a pobreza para além da pobreza económica” e os pobres acabam por sofrer “uma dupla exclusão”, quando se ajuda alguém “o objetivo deve ser levar a pessoa a sair desse ciclo de pobreza”, olhando-o como um irmão “e não apenas como um outro que temos de ajudar”.
O Dia Mundial dos Pobres foi instituído na Igreja Católica pelo Papa Francisco, em 2017, com a carta apostólica ‘Misericórdia e mísera’, que foi publicada no encerramento do Jubileu da Misericórdia.
A Cáritas Portuguesa vai lançar a campanha ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’, edição 2024, este domingo, dia 17 de novembro, em Santarém, no contexto da celebração do Dia Mundial dos Pobres da Igreja Católica.
Na Diocese de Angra, o bispo, D. Armando Esteves Domingues vai presidir a uma Missa na sede da Cáritas da ilha Terceira, no dia 30 de novembro, que vai ser um ‘Dia Aberto’ e lançada, em termos regionais, a operação solidária ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’, informa o portal online ‘Igreja Açores’.
CB