Angra: Homilia de D. Ivo Scapolo na celebração de Sexta-feira da Paixão do Senhor

Homilia na Celebração da Paixão do Senhor

Nuncio Apostólico, D. Ivo Scapolo

Igreja Catedral

Angra, 15 de abril de 2022

Depois de escutar o relato da paixão do Senhor segundo São João, o melhor seria ficar em silêncio. Necessitamos de silêncio para entender verdadeiramente o sentido da tragédia que foi a paixão de Jesus: a intensidade dos sofrimentos de Jesus, as causas de tudo o que passou, as responsabilidades das pessoas, as consequências na vida da humanidade, as nossas responsabilidades, a medida do amor de Jesus. Sabemos que muitos crentes fizeram um verdadeiro salto de qualidade e intensidade na sua vida espiritual na medida em que alcançaram penetrar e contemplar o mistério da paixão e morte de Jesus. Alguns santos servem de ponto de referência nesta contemplação, como foi São Francisco de Assis, Santa Rita de Cássia, São Pio de Pietrelcina.

Deixo por tanto a cada um a tarefa de fazer esta reflexão esta noite e no dia de amanhã,

Sábado Santo. Agora permito-me fazer apenas algumas reflexões para ajudar nesta meditação da Paixão de Jesus, à luz da qual refletir também sobre o sentido dos sofrimentos e das tragédias da humanidade de hoje. Nestes últimos tempos tivemos que perguntar-nos, com particular intensidade, sobre o sentido do sofrimento e da morte causados pela pandemia da Covid-19 ou pela atual guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Mas, frequentemente, esquecemos que no mundo há também uma quantidade inumerável de seres humanos que sofrem e morrem por causa de guerras esquecidas como a da Síria e do Yémen, pelo terrorismo, pela tragédia permanente causada pela falta de comida, de água e de medicamentos, pelo massacre dos inocentes causado pelo aborto, pelo tráfico de seres humanos e tráfico de órgãos, pelas formas mais camufladas de escravidão, pelo trágico fenómeno dos emigrantes e refugiados. Meditar sobre a paixão de Jesus obriga-nos a reconhecer onde Jesus continua a ser maltratado, violado e morto; obriga-nos a perguntar-nos o que estamos nós a fazer para lutar contra estas imensas tragédias da família humana à qual pertencemos.

Meditar sobre a paixão de Jesus é também um momento de graça porque nos obriga a perguntar-nos sobre o sentido do sofrimento e da morte. Trata-se de grandes perguntas,

cuja resposta cada um deve encontrar mediante a reflexão, a oração, o diálogo com as pessoas que andam em busca de uma resposta ou que já a encontraram. Portanto, não pretendendo dar respostas fáceis, sugiro buscar uma resposta à seguinte pergunta: Que quer Deus dizer-nos com estas tragédias, permitindo as maldades, as violências, as doenças, as catástrofes, os acidentes, a multiplicação do sofrimento na vida de algumas pessoas?

Deus quer, talvez, ajudar-nos a quebrar falsas seguranças; eliminar o orgulho e a presunção de poder fazer por conta própria; rever programas inúteis ou até maus; ver mais além de um horizonte limitado a esta vida terrena; entender que nada é seguro e duradouro.

Sabemos que a cruz de Cristo, um aparente e trágico insucesso, foi na realidade a grande vitória sobre o diabo, o mal, a morte. Da mesma maneira Deus nos convida à solidariedade, ao serviço, à empatia; sacode-nos para que comecemos a usar bem a vida,

os vários dons recebidos, a capacidades que nos doou para o bem comum; pede-nos a coragem de lutar por algo verdadeiramente importante como a liberdade, de maneira particular a liberdade religiosa, tal como fizeram os mártires; torna-nos mais empáticos e sensíveis aos sofrimentos dos outros. Pedimos a Deus que, mediante a ação do Espírito Santo, também esta Sexta-Feira Santa seja um momento de graça no qual o sacrifício de Jesus na cruz possa produzir fruto no nosso coração, na nossa mente e na nossa vida.

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Agência ECCLESIA

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