«A verdadeira glória não está em colocar os outros debaixo dos nossos pés, mas em curvar-se diante do outro» – D. Armando Esteves Domingues
Angra do Heroísmo, Açores, 06 abr 2023 (Ecclesia) – O bispo de Angra lavou hoje os pés a 12 utentes das casas de saúde de São Rafael e do Espírito Santo, antes da Missa da Ceia do Senhor, onde afirmou que a “verdadeira glória” está em “curvar-se diante do outro ao serviço”.
“No lava-pés há uma visão de Jesus e do Pai difícil de compreender por Pedro e pelo homem, mas Jesus envolve-os sem meias medidas; A verdadeira glória não está em colocar os outros debaixo dos nossos pés, mas em curvar-se diante do outro ao serviço da sua necessidade e da sua alegria. A verdadeira glória não está em tirar a vida do outro, mas em compreender-se como vida para o outro, seja ele quem for”, disse D. Armando Esteves Domingues, na Sé de Angra.
O bispo de Angra, que preside pela primeira vez às celebrações pascais na diocese insular, lavou os pés a 12 utentes – homens e mulheres – das duas instituições de saúde mental da ilha Terceira.
“Ajudar, acompanhar, cuidar… Precisamos de irmãos que nos sirvam e nos ajudem. É tão bonito este amor que Jesus derramou por nós e que quer que nós derramemos pelos irmãos. O melhor que recebemos Dele é este amor”, explicou D. Armando Esteves Domingues, nesta celebração com utentes das casas de saúde de São Rafael e do Espírito Santo, divulga o portal online ‘Igreja Açores’.
Na Sé de Angra, na homilia da Missa da Ceia do Senhor, o bispo diocesano, a partir da do Evangelho de São João que narra o gesto do lava-pés, “que nasce de um amor que atinge aqui a sua plenitude”, destacou que “a única veste litúrgica que Jesus usa em todo o Evangelho é o seu humilde avental”.
“Colocou à cintura o seu avental e lavou os pés aos discípulos, um gesto próprio do escravo; Que solenidade naquele avental! Que missa, que Eucaristia, aquela que celebramos quando vestimos os aventais e lavamos os pés uns dos outros, e nos entregamos aos outros; não há alegria mais bela do que fazer algo bom pelos outros”, afirmou.
Segundo D. Armando Esteves Domingues, Jesus era movido “unicamente” pela intenção de revelar que “ao mal se pode responder com o bem, ao erro com o perdão e ao ódio com um amor louco e escandaloso”, convertendo as feridas infligidas “numa brecha da qual flui, poderosa, a energia de uma benevolência que envolve aqueles que ofendem, na esperança de humanizar-suavizar a sua escuridão interior”.
O bispo de Angra, na homilia da Missa vespertina, afirmou que precisam de “voltar a ser estas famílias reunidas à volta da mesa com Jesus, já em cada casa”, e que se reúnem na casa da Igreja “onde circula a força do Mandamento Novo de Jesus”.
“Chega a ser deprimente ver como muitas famílias, devido ao ensino incompleto que fomos fazendo nas paróquias e que já não serve hoje, se esforçam apenas por ‘levar os filhos à primeira comunhão’, como a um rito isolado ou um prémio que se recebe por ter ‘ido à catequese’, em vez de se questionarem, antes de tudo, sobre a qualidade da vida cristã vivida entre todos na família e centrada em Cristo”, desenvolveu.
Neste sentido, D. Armando Esteves Domingues alertou que “é redutor fazer a primeira comunhão sem uma habitual presença na Eucaristia”, considerando que chegará um dia, “em que os pais, melhor que os catequistas, perceberão que o filho ou filha já conhece e ama Jesus”, fala com Ele na oração, há uma paixão entre os dois “e já sabe amar o próximo”.
“Dirão então que é tempo de iniciar a participação plena na Eucaristia, começando a comungar o Corpo de Cristo. Ouve-se por vezes irrefletidamente aos mais novos: ‘fui tomar a hóstia…’. Até arrepia, só de ouvir! A hóstia é Cristo! Será que a nossa fé chega até Ele, ou fica só no pão?”, acrescentou.
O sítio online de notícias da Diocese de Angra informa que D. Armando Esteves Domingues no próximo domingo também terá um gesto semelhante e além da missa de Páscoa na catedral, celebrará na cadeia com os reclusos do Estabelecimento Prisional de Angra.
CB