Eusébio Amarante Nguengo assinala que há «expectativa» no atual presidente do país, mas são necessários «factos»
Paulo Rocha e Tiago Azevedo Mendes, enviados da Agência ECCLESIA a Angola
Luanda, 22 nov 2018 (Ecclesia) – O diretor-geral da Cáritas de Angola disse em entrevista à Agência ECCLESIA que a paz não trouxe desenvolvimento ao país, onde há “expectativas de que as coisas mudem”, mas são necessários factos que as “consigam provar”.
“O país regrediu durante o período de paz: as pessoas morrem mais agora que não há guerra, as pessoas adoecem mais, estão mais fora da escola”, afirmou Eusébio Amarante Nguengo, em Luanda.
Para o responsável executivo pelo trabalho da Cáritas em Angola, desde fevereiro de 2014, “as pessoas têm sede de mudança nas comunidades”.
“Há expectativa de que as coisas mudem e temos um presidente que dá esses indicativos. Mas só são indicativos, precisamos de factos que consigam provar a sustentabilidade dos indicativos que o nosso presidente mostra”, referiu.
João Lourenço é presidente de Angola desde setembro de 2017 e inicia hoje uma visita de Estado a Portugal, que vai decorrer em Lisboa e no Porto, onde se vai encontrar com empresários portugueses e angolanos.
Para Eusébio Amarante, é necessário que a economia passe da “situação moribunda para uma situação crescente”, aconteçam as respostas efetivas aos “desastres” que assolam o país, os indicadores mostrem “sustentabilidade no crescimento económico” e se concretize a mudança na “qualidade de ensino”.
“Os angolanos precisam de ter emprego. O Estado tem de ter capacidade de promover o emprego”, sustenta, acrescentando que “a juventude ainda tem muitas dificuldades em ter acesso ao emprego”.
O diretor-geral da Cáritas de Angola lembra que o país tem de ser liderado por “governantes sérios” e diz que a pobreza se deve à existência de “maus governantes”.
“O poder está mal estruturado. Se o poder estiver estruturado, até a distribuição da riqueza pode ser melhor. Os que estão a governar, se governarem bem, todos teremos um pouquinho que chega para sobreviver”, defendeu.
Eusébio Amarante Nguengo pede à Igreja Católica mais intervenção para “dizer que está mal quando as coisas estão mal” e para adiantar “pequenos modelos” que podem incentivar à mudança.
Questionado sobre as ajudas que chegam da comunidade internacional, o diretor-geral da Cáritas defende que sejam canalizadas para zonas do interior do país, fixando aí quadros superiores e investimentos públicos e privados.
“Temos de ser firmes e mostrar a quem vem para trabalhar connosco que não vieram para dizer o que temos de fazer no nosso país, mas para partilhar, aconselhar e deixar que sejam os angolanos a tomar conta do que é dos angolanos”, defendeu.
“Os angolanos precisam de perceber que eles têm de ser um só”, concluiu o diretor-geral da Cáritas de Angola.
A Cáritas de Angola está a implementar o projeto “Cáritas Lusófonas em Rede – Inovar par ao Impacto”, promovido pela Cáritas Portuguesa, em parceria com a Fundação Fé e Cooperação e financiado pelo Instituto Camões.
PR