«Aligeirar do pesado fardo de uma economia penalizante» seria uma «belíssima prenda» pelos 50 anos de independência do país

Luanda, 21 jul 2025 (Ecclesia) – A Comissão Episcopal de Justiça e Paz e Integridade da Criação dos bispos de Angola e São Tomé publicou uma nota sobre a situação do país, alertando para a “visível angústia da quase maioria da população angolana”.
“Sentindo o grito do nosso povo e partilhando com ele as suas preocupações, eis que erguemos a nossa voz pela paz social e em defesa dos que menos podem suportar a carestia de vida, nos últimos tempos agravada com o aumento generalizado de preços”, afirma a comissão da Conferência Episcopal Católica de Angola e São Tomé (CEAST), na nota enviada à Agência ECCLESIA.
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz e Integridade da Criação assinala o “preocupante agravamento da carência alimentar” e dos meios de sobrevivência em geral da “maior parte das pessoas em todo território” de Angola, devido às “últimas medidas económicas” no país africano, “marcadas sobretudo pelo aumento geral dos custos dos principais produtos e serviços, provocado pela subida dos preços do Gasóleo”.
“A crescente carestia de vida agora agravada, clama por novas formas de abordagem de quem administra o bem público. Aqui exortamos ao sector governamental encarregado pela economia a rever as últimas medidas e a encontrar caminhos menos penalizantes no âmbito da sua responsabilidade governativa”, e recomendam “o diálogo intersocial” envolvendo todos os sectores capazes de contribuírem com ideias e encontrarem consensos.
Na nota de reflexão pastoral ‘sobre a situação actual que o país vive’, salientam aos decisores públicos e a todas as forças sociais que as medidas, “forçadas pelo actual contexto económico mundial e nacional”, “clamam por concertações sociais mais inclusivas”, e ponderadas antes da sua implementação efectiva, alertam para “a degradação social dos tecidos mais frágeis da sociedade”, a diferença entre salários e “poder de compra”, e a “pesada carga fiscal”.
A comissão da CEAST alerta que este “particular e melindroso momento da história” de Angola coloca-os “sob o eminente perigo de convulsões” que já assistiram de forma intermitente, “mas que pode crescer, assumindo expressões cada vez mais violentas”, porque a essa realidade se associam a “inevitável indignação popular que pode ameaçar a paz social”.
A Comissão de Justiça e Paz e Integridade da Criação considera que seria uma “belíssima prenda” da comemoração dos 50 anos de independência de Angola, a assinalar no dia 11 de novembro, sentirem o “aligeirar do pesado fardo de uma economia penalizante, como se sente pelo seu grito de socorro”, e aconselha a negociações “capazes de salvaguardar a sobrevivência do povo”, na discussão com organizações credoras, como o Banco Mundial e o FMI.
“O endividamento estéril e o seu esbanjamento, certamente não concorrem para o bem da nação, mas apenas enriquece injustamente pequenos grupos. Deveria ser preocupação nossa garantir o uso eficiente destes recursos e que estes produzam valor e riqueza interna ao serem aplicados em bens duráveis.”
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz e Integridade da Criação dos bispos católicos de Angola e São Tomé reconhece “profundamente grandes conquistas democráticas”, ao longo dos últimos 50 anos, mas assiste com “grave preocupação” a supressão de direitos para a afirmação de liberdades, “sobretudo o direito à manifestação e à livre expressão”, penalizadas por instituições que as deviam promover.
CB/PR