Angola ainda está a caminho da paz

Entrevista a D. Damião Franklim, Arcebispo de Luanda e Presidente das Igrejas Lusófonas Agência ECCLESIA (AE) – Como define a realidade eclesial de Angola? D. Damião Franklim (DF) – Em nenhum país do mundo se pode dizer que a Igreja tem tudo de bom ou tudo de mau. A Doutrina da Igreja ensina-nos que a Igreja é santa na sua origem, nos seus meios e na sua finalidade, todavia é formada de homens. A Igreja angolana tem luzes e sombras mas há um grande esforço para que os fiéis vivam mais a rectidão doutrinal. Para além deste ponto existe também o problema vocacional porque queremos que as famílias sejam mais comprometidas e que os jovens enveredam pelos melhores caminhos. Queremos que a Igreja tenha um rosto autêntico de Cristo. AE – Que sombras escurecem a Igreja deste país lusófono? DF – Quando falo de sombras refiro-me a aspectos organizativos e na dificuldade de termos formadores para a questão vocacional. A Igreja angolana tem também dificuldades para reconstruir as unidades pastorais que foram destruídas durante a guerra. Factores que complicam a boa vontade e organização da igreja. Apesar destas complicações, o povo não deixa de rezar mas é preciso encaminhá-lo e orientá-lo bem. É necessário explicar-lhes que não podem fazer do cristianismo um bem de consumo. AE – Para ultrapassar esta fase é fundamental a formação cristã? DF – Não quer dizer que o povo faça do cristianismo um bem de consumo mas pode haver essa tentação. Muitas vezes as pessoas vão à Igreja não para louvar ao Senhor mas para resolver os seus problemas. Num mundo de carências, elas vão pedir para ter isto ou aquilo: um emprego, uma família bem constituída, em casa… Temos de purificar as intenções através da catequese séria e profunda. Temos de apostar numa pastoral laical com leigos bem intencionados. AE – O êxodo rural é uma realidade presente e a cidade de Luanda cresceu enormemente nos últimos tempos devido a esta migração interna. É preciso sensibilizar as pessoas para ocupar o país todo e não apenas as grandes cidades? DF – É preciso apelar para que haja condições materiais. Que as ruas funcionem e haja o mínimo de condições humanas no interior: energia, água e casas. Estes factores podem ser aliciantes. Não basta dizer ide e depois chegam lá e passam mal. As pessoas habituaram-se a um estilo de vida urbano. É fundamental uma reconstrução prévia do país e depois poderemos assistir ao retorno das pessoas. AE – O processo de paz está consolidado? DF – Está em caminho. Enquanto não tivermos uma democracia bem assente – quem o diz são as pessoas que governam o país – não podemos falar de algo consolidado. Actualmente temos o mínimo de liberdade de expressão, algo que antes não tínhamos. Eu direi que é preciso dar um bocadinho de tempo porque só há uma democracia real quando cada cidadão angolano tiver o mínimo indispensável e sentir-se orgulhoso de pertencer ao país.

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Agência ECCLESIA

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