Anglicanos: Bispo português antecipa conferência de Lambeth

No início da conferência de Lambeth, que reúne os bispos da comunhão anglicana de dez em dez anos, D. Fernando Luz Soares, que estará presente enquanto líder da Igreja Lusitana, fala à Renascença dos desafios mais importantes que ali se irão colocar. A conferência deste ano ocorre numa altura complicada, com divisões vincadas entre conservadores e liberais sobre assuntos como a ordenação de homossexuais e a interpretação dos Evangelhos, havendo mesmo quem fale na inevitabilidade de uma cisão. D. Fernando fala sobre os problemas que a comunhão enfrenta e revela optimismo, acreditando que esta crise, como as outras, irá passar, deixando a sua igreja mais forte. Com 28 anos de Bispo, esta é a sua terceira Conferência. Talvez por isso D. Fernando não se assusta com o espectro da crise. “Esteve sempre em crise! Em 1988 a grande questão que estava a extremar opiniões era da ordenação das mulheres para o sacerdócio, em 1998 era o problema da ordenação de homossexuais. Esta vai continuar na linha das outras.” Para este líder religioso, mais do que uma crise, a comunhão anglicana “está a viver aquilo que é a sua maior razão de ser: conviver com a diversidade. É preciso conviver com este movimento que se está a verificar ao nível das igrejas africanas e sul-americanas que é um movimento de repúdio da questão colonial”, diz, em referência ao bloco conservador, que tem a sua origem particularmente nessas zonas. O seu optimismo não é total. Acredita que é possível manter a unidade com posições tão extremadas de cada lado? “Neste momento tenho algumas dúvidas, mas o nosso tempo não é o tempo de Deus. Acredito que esta gente vai passar e por conseguinte a Igreja vai continuar, porque a Igreja não é nossa, é uma manifestação do Espírito Santo, e Este vai-nos ajudar.” Mas avisa, “é muito difícil pensar que alguma vez se possa chegar a uma unidade instituída, como vemos em Roma. Na comunhão anglicana a unidade é uma coisa vivida.” A dar-se uma cisão radical entre conservadores e liberais, D. Fernando não tem dúvidas sobre o lugar da Igreja Lusitana: “Nós temos uma lealdade de vida ao Arcebispo de Cantuária, que é o nosso Metropolita. Entendemos que a Comunhão Anglicana tem todas as condições para se manter conforme está.” A Igreja Lusitana, cujo nome oficial é Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica e surgiu quando uma série de padres e fiéis abandonaram a Igreja Católica após o Concílio Vaticano I, no século XIX. Embora conte apenas com cerca de cinco mil fiéis em Portugal, a sua adesão à comunhão anglicana colocou-a na terceira maior igreja cristã do mundo, com quase 80 milhões de fiéis. Maiores, só a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.

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