Cidade do Vaticano, 15 nov 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou hoje para a “fragmentação cultural” que afeta a Améria, numa audiência à comunidade do Colégio Pontifício Pio Latino-americano, a quem pediu que sejam “artesãos de relações e de comunhão”.
“É um dos poucos colégios romanos cuja identidade não se refere a uma nação ou carisma, mas procura ser lugar de encontro, em Roma, de nossa terra latino-americana, a Pátria Grande como os nossos homens ilustres gostavam de sonhar”, disse, na audiência que decorreu na Sala Clementina, no Vaticano.
O Papa, antigo arcebispo de Buenos Aires explicou que o colégio “foi sonhado”, e por isso, “é amado” pelos seus bispos que lhe dão prioridade, “oferecendo” aos jovens sacerdotes a “oportunidade de criar uma visão, uma reflexão e uma experiência de comunhão expressamente ‘latino-americanizada’”.
Francisco salientou que um dos fenómenos que, atualmente, “afeta duramente” o continente latino-americano “é a fragmentação cultural, a polarização do tecido social e a perda das raízes”.
Neste contexto, alertou para os discursos que dividem e propagam diferente tipos de confronto e ódio contra quem não faz parte do grupo e para a importação de “modelos culturais” que criam “novas gerações desenraizadas e fragmentadas”.
“A Igreja não é alheia à situação e está exposta a essa tentação. Sujeita ao mesmo ambiente corre o risco de se desorientar ao ser vítima de uma ou outra polarização ou desenraizada, se a sua vocação a ser terra de encontro é esquecida”, desenvolveu, realçando a importância de viver em Roma, sobretudo no Colégio Pio Latino-americano, para criarem “laços e alianças de amizade e fraternidade”.
Francisco sublinhou que a vivência no colégio pode “ajudar muito” a criar uma comunidade “sacerdotal aberta e criativa, alegre e cheia de esperança”.
“Na Igreja também existe a invasão das colonizações ideológicas”, alertou.
O Papa sul-americano referiu que o seu continente “marcado por velhas e novas feridas” precisa de artesãos de relações e de comunhão, “abertos e confiantes na novidade” que o Reino de Deus pode suscitar hoje.
“Vocês podem começar a desenvolver a partir de agora”, disse à comunidade do Colégio Pontifício Pio Latino-americano, explicando que um sacerdote nas sua paróquia, na sua diocese, “pode fazer muito” que “é bom” mas também “corre o risco de se queimar, se isolar ou colher para si mesmo”.
Segundo Francisco, esse sentimento de pertença e reconhecimento ajuda “a libertar e estimular criativamente energias missionárias renovadas que promovam um humanismo evangélico capaz de se tornar inteligência e força propulsora de nosso continente”.
Na audiência desta manhã, o Papa destacou ainda o exemplo de São Óscar Romero, canonizado no dia 14 de outubro, que foi aluno do colégio em Roma e “sinal vivo da fecundidade e santidade da Igreja latino-americana”.
“Um homem enraizado na Palavra de Deus e no coração do seu povo. Essa realidade nos permite entrar em contacto com aquela longa cadeia de testemunhas na qual somos convidados a criar raízes e a nos inspirar todos os dias, especialmente neste período em que estamos ‘longe de casa’”, desenvolveu.
O portal ‘Vatican News’ divulga que Francisco terminou com um agradecimento à Companhia de Jesus (Jesuítas) que desde o início acompanha o Pontifício Colégio Pio Latino-americano, a comemorar 160 anos de fundação.
“Uma das características que distingue o carisma da Companhia é a de procurar harmonizar as contradições sem cair no reducionismo”, comentou.
CB/OC