América Latina: Dominicanos recordam luta pelos índios contra abusos dos colonizadores

Luís Miguel Cintra vai ler sermão de Antonio de Montesinos, proclamado a 21 de dezembro de 1511

Lisboa, 21 dez 2011 (Ecclesia) – O ator e encenador Luís Miguel Cintra vai ler hoje, em Lisboa, o sermão de Antonio de Montesinos em defesa dos índios, no âmbito das comemorações do quinto centenário da pregação do religioso dominicano espanhol.

Os Dominicanos espanhóis estiveram contra os seus compatriotas na defesa dos direitos dos índios, considera o frei Augusto José Matias, que evocou os cinco séculos do sermão de Montesinos em texto publicado no semanário Agência ECCLESIA.

Na missa do quarto domingo do Advento celebrada a 21 de dezembro de 1511, na ilha La Hispanyola (hoje Haiti e República Dominicana), o religioso da Ordem dos Pregadores denunciou os abusos dos colonos naquela que foi “a primeira terra encontrada por Colombo na sua tentativa da chegar à Índia”.

O frei Augusto José Matias sublinha que os ocupantes “não queriam admitir que os nativos “tinham a mesma natureza humana que eles, para poderem explorar o seu trabalho sem restrições de consciência”: “Estes não são homens? Não têm almas racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos?”, questionou Montesinos.

“Os colonizadores tinham reduzido aquelas populações a uma situação de grande desumanidade: duros trabalhos sem descanso para arrancarem da terra o minério, alimentação escassa e fraca, doenças locais ou transportadas, sem lhes prestarem quaisquer cuidados”, recorda frei Augusto José Matias.

O religioso espanhol dirigiu-se aos ocupantes e perguntou-lhes: “Com que direito e com que justiça tendes estes índios em tão cruel e horrível servidão? Com que autoridade fizestes tão detestáveis guerras a estas gentes que estavam nas suas terras, mansas e pacíficas, onde consumistes um número infindável delas com mortes e estragos nunca ouvidos?”

“Como é que os tendes tão oprimidos e esgotados, sem lhes dar de comer nem curar as suas doenças, que pelos excessivos trabalhos a que os sujeitais vos morrem, melhor será dizer, os matais, para arrancarem e, conseguirem ouro todos os dias”, interpelou também o frade Montesinos.

Os religiosos dominicanos, que tinham chegado cerca de um ano antes à ilha, viviam também “na penúria, com as mesmas choças por habitação e os mesmos escassos e magros alimentos”, com o objetivo de “não comprometerem a sua liberdade de pregação”.

O frei Augusto José Matias salienta no seu artigo que “a situação estava invertida: os infiéis não eram os indígenas, mas os espanhóis”, pelo que nos indígenas era preciso ensinar a fé”.

No fim da missa “foi grande o burburinho e a agitação”: “a casa dos frades foi cercada” para exigir “retratação” e a “resposta foi a promessa de um novo sermão no domingo seguinte, que os colonos pensavam ser de desculpas pelos exageros”, mas que veio a ter o mesmo conteúdo “e com mais insistência ainda”.

A leitura do sermão de Montesinos, com entrada livre, começa às 21h30, no Convento de São Domingos (Rua João de Freitas Branco, 12, Lisboa), numa sessão em que vão ser cantadas algumas peças gregorianas de Advento pelo coro Solemnis.

RJM/OC

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