Papa aposta em mudança de discurso da Igreja, uma semana antes de nova assembleia do Sínodo dos Bispos
Filadélfia, Estados Unidos da América, 27 set 2015 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje em Filadélfia um discurso católico mais centrado na proposta positiva sobre a família, em particular junto dos jovens, que vivem num “medo inconsciente” do matrimónio e da vida conjugal.
“Enganar-nos-íamos se interpretássemos a desafeição, que a cultura do mundo atual tem pelo matrimónio e a família, só em termos de puro e simples egoísmo. Há muitos que adiam o matrimónio à espera das condições ideais de bem-estar e, entretanto, a vida é consumida, sem sabor”, afirmou, num encontro com cerca de 300 bispos católicos que participam no 8.º Encontro Mundial das Famílias (EMF), na capela do Seminário de São Carlos Borromeu, em Filadélfia.
A poucas horas de encerrar o EMF, na cidade norte-americana, e uma semana antes de dar início a uma nova assembleia do Sínodo dos Bispos, Francisco pediu que os responsáveis católicos concentrem energias “não tanto para explicar uma vez e outra os defeitos da condição atual e os valores do cristianismo”, mas como sobretudo para “convidar com audácia os jovens a ser ousados na opção do matrimónio e da família”.
O Papa admitiu que a cultura contemporânea “empurra e convence os jovens a não formar uma família”, seja por falta de meios, seja por excesso de recursos e comodismo.
“A cultura atual parece incentivar as pessoas para entrarem na dinâmica de não se prender a nada nem a ninguém. Não confiar, nem fiar-se”, acrescentou.
Francisco alertou para a tendência, também a nível religioso, de “correr atrás da última tendência”, assumindo que vive um “difícil período de transição”, por causa da “profunda transformação do contexto atual, que incide sobre a cultura social – e lamentavelmente também legal – dos laços familiares”, atingindo crentes e não-crentes.
“Indo atrás do que «me agrada», olhando ao aumento do número de «seguidores» numa rede social qualquer, as pessoas seguem a proposta oferecida por esta sociedade contemporânea. Uma solidão com medo do compromisso, numa busca frenética de sentir-se reconhecido”, assinalou.
Face a uma cultura que adquiriu uma “dinâmica competitiva” e transformou a sociedade numa “imensa vitrina multicultural, atenta apenas aos gostos de alguns «consumidores»”, a Igreja não pode “condenar” os jovens por terem crescido neste contexto.
“Devemos anematizá-los porque vivem neste mundo? Será necessário ouvirem da boca dos seus pastores frases como estas: «dantes era melhor», «o mundo está um desastre e, se continuar assim, não sabemos como iremos acabar»?”, questionou.
O Papa disse que este discurso de lamento “parece um tango argentino”, desafiando os bispos a, pelo contrário, “procurar, acompanhar, erguer, curar as feridas” dos dias de hoje.
“Atrevo-me a dizer que uma das principais pobrezas ou raízes de muitas situações contemporâneas é a solidão radical a que se veem forçadas muitas pessoas”, insistiu.
Francisco recordou que, sem famílias, a Igreja não existiria, elogiando todos os que, mesmo nas mais “duras provas”, honram as suas promessas e guardam a fé.
“Deus nos conceda o dom de uma nova proximidade entre a família e a Igreja. A família é o nosso aliado, a nossa janela aberta para o mundo, a evidência duma bênção irrevogável de Deus”, concluiu o Papa.
OC