Amantes da verdade e vencedores do mal

Aos Jovens da Universidade de Évora, na Bênção das Pastas Caros Jovens Finalistas: tornai-vos amantes da verdade e vencedores do mal! Cremos em um só Deus, mas num só Deus em três pessoas iguais e distintas, em íntima e eterna comunhão de vida, verdade e amor. Na Solenidade da Santíssima Trindade convém reter, com S. Ireneu, que ‘Deus Pai age no mundo pelas suas duas mãos’, pelo Filho feito homem e pelo Espírito derramado nos nossos corações o qual “provém do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”(cf.Credo). Amor, verdade e vida constituem o desejo e a alegria do homem, seduzido pela beleza, pela verdade e pelo bem, faminto de felicidade, desejoso de amar e de ser amado! Cada um de nós, criado à imagem e semelhança de Deus, deseja ser feliz, é chamado a abrir-se e a viver para os outros e a estabelecer laços de solidariedade e de comunhão, à imagem da Trindade, na Igreja de Deus Pai, que é Corpo e Esposa de Cristo e que é animada e guiada pelo Espírito Santo. Nós acreditamos em Deus único, mas não num deus solitário; cremos em Deus que é amor, bondade, comunicação, diálogo eterno e de maneira nenhuma é ou se confunde com o narcisismo e o egoísmo supremos. O amor requer relação e diálogo. Em Deus único, que Cristo nos revela, há um Amante, um Amado e o Amor que os une. No Deus único e inefável, confessamos a verdade, a beleza e bondade do Pai que ama o Filho, no vínculo do Amor subsistente entre o Pai e o Filho, que é o Espírito Santo. Neste sentido, dizia S. Agostinho: “se vês a caridade, vês a Trindade” ( De Trinit. VIII,8,12). 1. O mistério da Trindade revela-se na Encarnação do Filho de Deus. S. João, testemunha ocular de Jesus, diz que Deus Pai se deu a conhecer como luz e amor, em Cristo, Filho de Deus feito homem. João anuncia o que viu, ouviu e tocou, para que acreditemos e tenhamos a vida e acesso à comunhão do amor, na confissão do Logos da Vida que deu a conhecer o Pai, fonte de vida, de verdade e de amor: “O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram, relativamente ao Verbo da Vida (…) isso vos anunciamos para que também vós estejais em comunhão connosco e nós estejamos em comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo”( 1 Jo 1,1-3 ). O Filho, que provém do Pai, fez-se um de nós, em tudo igual a nós, excepto no pecado. Ele veio “ para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância” e por isso ao entronizar à direita do Pai a humanidade, que assumiu no seio de Maria, Jesus Ressuscitado deu-nos o Espírito do Pai e do Filho, para habitar, misteriosamente, na Igreja e em nós, como num templo. O Espírito santificador, consolador e advogado é o mestre interior e a força do alto que vem em auxílio da nossa fraqueza e nos é dado sempre em ordem ao futuro, à santificação e missão de cada um e da Igreja que somos e da qual o Espírito Santo é a ‘alma’, o motor e o princípio unificador e vivificante. 2. S. João dirige-se aos Jovens, anuncia-lhes a mensagem que ouviu de Jesus. A mensagem que João ouviu de Jesus e transmite é: Deus é Luz, Deus é Verdade e “Deus é amor e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele”(1 Jo 4,16 ). João escreve aos Jovens que já são crentes, que já ouviram falar de Deus e de Jesus, prevenindo-os dos perigos que correm, exortando-os à conversão e a aceitar a instrução e a sabedoria verdadeira que se encontra em Cristo e se contrapõe à sabedoria do mundo sem horizontes, dizendo: “ Eu vos escrevo a vós Jovens porque conheceis o Pai, porque sois fortes, conservais a mensagem de Deus e vencestes o Maligno” (1 Jo 2,14). A adesão de fé em Deus que se revela em Cristo e através de Cristo nos ama e convida a amar, penetrando nos nossos corações pela unção e acção do Espírito, pressupõe e exige uma constante conversão a Deus, Verdade, Amor e Beleza e ainda a escolha do que convém, nos valoriza e torna felizes e a renúncia aos contra-valores e vícios mundanos, pois “ tudo o que há no mundo, a cobiça sensual, a cobiça do que se vê, o estilo de vida orgulhoso, não procedem do Pai, mas do mundo” ( 1 Jo 2,16). 3. O ser humano procura o sentido e a explicação e realização de si próprio. Já no templo de Delfos, na antiga Grécia, estava a inscrição: “Conhece-te a ti mesmo”. Diz a Carta aos Hebreus: “muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas e, nos últimos tempos, por meio do Filho” (Heb 1,1-2). Deus deu-se a conhecer em Cristo e por Cristo. O Filho revela o mistério de Deus, Pai, Filho e Espírito e revela também o homem a si próprio (GS 22), pois o homem sempre se viu a si mesmo como mistério que só encontra explicação à luz do mistério de Deus que o Filho nos revela. 4. Deus manifestou-se para sabermos quem Ele é e o que quer de nós e ainda para conhecermos donde vimos, o que somos, para onde vamos e qual é o sentido da nossa vida. Falou-nos para nos assegurar que Ele nos ama, nos quer felizes e nos quer salvar, dando-nos a conhecer o Seu projecto de salvação, de amor, de vida e comunhão eterna com Ele, dado que foi “ por causa de nós homens e para nossa salvação” que o Filho de Deus desceu dos céus” (Credo). 5. É importante a leitura dos Provérbios (Prov.8,22-31), que apresenta a Sabedoria personificada, como dom de Deus, que antecede tudo: “Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra”. Ela precede todos os bens na ordem da existência e na ordem da dignidade e da importância, dado que ela é valor por excelência e bem incomparável. O Livro dos Provérbios é um aglomerado de máximas, antologia heterogénea de colecções de poemas didácticos elaborados do século X ao século V antes de Cristo e apresenta o ideal da Sabedoria enciclopédica que abarca o saber, a capacidade e habilidade humanas, a arte de bem viver e ser feliz, a recta conduta e ainda o saber transcendente e divino. Sabedoria e Instrução são palavras-chave de todo o livro, com as quais se apresenta ao homem o ideal do saber, a arte de viver e ser feliz, o que os sábios nos ensinam, a atitude recta dos discípulos que sabiamente ouvem e interiorizam a Sabedoria a qual para além de ser aquisição humana, objecto de aprendizagem, é também acolhimento do incomparável dom que Deus possui e nos concede. A espinha dorsal e o suporte religioso do movimento sapiencial de Israel e do Livro dos Provérbios reside no Temor de Deus que é o princípio e a coroa da Sabedoria e consiste na piedade filial, na submissão reverencial, na obediência e amor- resposta ao Deus da aliança, origem de todo o dom perfeito. A noção de ‘Temor de Jahveh’, em inclusão, abre e fecha o livro dos Provérbios ( Pr. 1,3 e Pr. 31,30 ). Oposta à Senhora Insensatez, irrequieta, estulta e que não sabe nada (Prov.9,13), a Sabedoria Personificada dos primeiros nove capítulos do livro ( Prov.1-9 ) exorta os inexperientes, prega pelas praças, apresenta-se como supremo bem e felicidade de quem a procura e encontra. A Sabedoria proclama aos quatro ventos que ama os que a amam e sempre se deixa encontrar pelos que a procuram ( 8,17). Ela é a vida de quem a encontra e quem a despreza ama a morte ( Prov. 8,32-36; cf. Sab.6,12 ss ). Os Jovens simples e inexperientes são os predilectos e os primeiros destinatários da Sabedoria, porque, pobres e inexperientes, são os que mais precisam dela, para se poderem orientar na vida. A Sabedoria inculca, nos Jovens inexperientes, sem instrução, uma forte e bem vincada personalidade, para se deixarem orientar pelo temor de Deus e pela piedade filial, evitando o que avilta e aniquila a pessoa humana, como a preguiça, o álcool e as várias espécies de drogas, as más companhias, a banalização do amor e da existência, os desmandos da língua, a injustiça, o egoísmo, a presunção do orgulho, a iniquidade e muitas outras coisas nocivas de que o livro dos Provérbios nos fala. 6. Caros Jovens! Permiti que Vos trate assim! Sois Jovens na idade e, sobretudo, Jovens, fortes, livres e valorosos no espírito, que é o mais importante e é o que deve ser sempre apanágio das vossas vidas! Este dia é para vós um dia de festa! Estais satisfeitos por terdes chegado ao fim desta etapa da vossa formação. Parabéns pelo êxito obtido, depois de tantos anos de trabalho. Quero porém advertir-vos de que se trata só do final duma etapa. Não penseis que chegastes à meta nem que nada mais vos é pedido. A aprendizagem permanente é o vosso programa! Não penseis que sabeis tudo ou fizestes tudo. A presunção orgulhosa e o desespero derrotista são pecados contra o Espírito Santo e não levam a parte nenhuma, nem beneficiam ninguém e muito menos a sociedade de que fazemos parte e que devemos servir. A sequela e abertura à Sabedoria e o empenho social e fraterno em favor da comunidade persistem e devem continuar. Inseri-vos no mundo. Não vos dissocieis da sociedade. Tentai generosamente solucionar os seus problemas, que, em última análise, são sempre os problemas de homens e mulheres concretos, de carne e osso. Levais algumas receitas, uma bagagem de conhecimentos, para aplicar com clarividência, humildade, respeito e amor pelas pessoas, que merecem, precisam e têm direito à vossa ajuda. Mas deveis levar sobretudo um coração grande para servir, para ouvir, para curar e para amar. 7. Diz S. Paulo que: “ Nenhum de nós vive para si mesmo”. A nossa vida só tem razão de ser no amor e deve orientar-se para viver em comunhão e de mãos dadas com os outros, atentos às suas necessidades, servindo a sociedade, com alegria e generosidade. Só, assim, imitaremos a Deus e espelharemos no mundo a beleza e a comunhão de vida, de verdade e de amor da Trindade Santíssima. Portugal e uma multidão de pobres, necessitados e ignorantes precisam de vós. Coragem, alegria, amor e dedicação! E, por favor, não desiludais a nossa esperança e a dos muitos homens e mulheres que contam convosco e vos esperam! Amen. Évora, 2 de Junho de 2007 + Amândio José Tomás

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