Almodóvar… o Humor Espanhol

Em quase três dezenas de filmes realizados, ao longo de mais de trinta anos, Pedro Almodóvar tem-se mostrado, na maior parte da sua obra, um cineasta original e com um raro sentido de humor. É na comédia que mais à vontade se tem mostrado, sabendo tirar partido de um equilíbrio, nem sempre fácil, entre as sequências de humor e a dose de dramatismo indispensável para dar consistência a uma obra. “Volver – Voltar” é um dos pontos altos da carreira do cineasta sob este ponto de vista, associando o humor com o romantismo e o drama, mostrando-nos tudo sobre uma família disfuncional, mas que não deixa por isso de reencontrar o caminho de um forte amor entre os seus vários membros. O que mais marca o filme é o absurdo das situações criadas, que em si mesmo são o pretexto para definir a personalidade de cada um dos intervenientes, bem mais que para construir qualquer tese ou encontrar a saída moral que muitos espectadores esperariam. Almodóvar tem mais em vista cada uma das pessoas, em si mesma, que as situações que cria para permitir bom resultado ao humor discreto e inteligente que suporta toda a narrativa. Curiosamente são femininas todas as personagens com um mínimo de interesse. Os homens ou passam despercebidos num segundo plano ou, quando indispensáveis, têm intervenções neutras e sem brilho especial. O especial interesse mostrado pelo papel da mulher, não sendo inédito na obra deste cineasta toma aqui um relevo muito especial, permitindo que um largo conjunto de actrizes se tenha aplicado num trabalho que mereceu, a título colectivo, o Prémio de Melhor Interpretação Feminina no prestigiado Festival de Cannes. Entrando em cartaz no início da época cinematográfica “Volver – Voltar” marca, logo à partida, muitos pontos, ficando já assegurado como uma das obras mais interessantes do ano cinematográfico agora iniciado. É, pelo menos, o que dita a probabilidade tendo em conta a programação dos anos mais recentes. Francisco Perestrello

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