Mensagem do Patriarca de Lisboa para um Natal que «não será fácil» para muitas famílias
D. José Policarpo defende que a solução para a crise que Portugal atravessa encontra-se na cultura e na identidade espiritual do povo português, que é necessário abraçar com “coragem e determinação”.
Na Mensagem de Natal, o Patriarca de Lisboa afirma que “as crises não encontrarão verdadeira solução, se não pusermos o acento no Portugal cultural, na verdadeira identidade espiritual do nosso Povo, caldeada ao longo de séculos por valores que constituem a verdadeira alma de Portugal”.
Dirigindo-se ao povo português na noite de Natal de 2010, D. José Policarpo desafia a procurar na identidade de Portugal os recursos necessários para ultrapassar crises ou sofrimentos.
“É, pois, o momento de abraçarmos com coragem e determinação esta nossa identidade, espiritual e cultural, de modo que nenhuma crise ou sofrimento as ponham em questão”, sublinha.
Depois de análises de peritos e políticos à crise económico-financeira, às suas causas e soluções, D. José Policarpo avança com “valores constitutivos da tradição cultural portuguesa”.
Para o Patriarca de Lisboa, os valores da solidariedade e da família “podem ajudar a viver, com grandeza, o momento presente”.
“A força espiritual de Portugal é, e sempre foi, a família, enraizada na beleza do amor de um homem e de uma mulher, aprofundado na experiência sublime da fecundidade. A família é a fonte da coragem”, afirmou.
“Fortalecidos na comunhão familiar, os nossos antepassados travaram todas as batalhas, arriscaram todas as aventuras, para escrever, por vezes com sangue, o nome de Portugal”, recorda D. José Policarpo.
“Quem não é fiel na família, dificilmente o será aos grandes desafios e objectivos da comunidade nacional”, recorda.
Recordando as muitas iniciativas que fazem de Portugal um “povo solidário e acolhedor”, D. José Policarpo refere que a crise “pode suscitar” o “espírito de solidariedade”, mais do que a contestação.
“Façamos do seu sofrimento a nossa causa; não olhemos só para aquilo de que nos privaram ou nos obrigaram a pagar a mais; mas partilhemos generosamente o que temos com quem tem menos do que nós”, afirma.
D. José Policarpo recordou as dificuldades que marcam o Natal para muitas famílias, sugerindo também que, como “há dois mil anos, a alegria daquele nascimento não foi impedida pela pobreza da gruta”, também hoje “a pobreza não impede, necessariamente, a alegria”
“Eu sei que, para muitos portugueses, para muitas famílias, este não será um Natal fácil; será tanto mais exigente quanto a alegria da festa esteja ligada ao bem-estar material”, refere.
D. José Policarpo deseja que a sua mensagem de Natal seja “um grito de esperança para Portugal, para Portugal concreto”, numa noite em que “valores porventura adormecidos” se transformam em cultura: “a paz interior, a beleza da comunhão e da fraternidade, a aceitação simples de um Deus connosco, no rosto humano de um Menino que nasceu para nós”.