Alimentação: Combate à fome exige superação de lógica do mercado, diz o Papa

Francisco visitou sede da FAO durante segunda Conferência Internacional sobre Nutrição

Roma, 20 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco visitou hoje a sede da organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, onde apelou ao respeito pelos direitos dos que sofrem com a fome, superando a lógica do mercado.

“Enquanto se fala de novos direitos, o faminto está aí, na esquina da rua, e pede o reconhecimento da cidadania, ser considerado na sua condição, receber uma alimentação de base saudável. Pede-nos dignidade, não esmola”, afirmou, durante a segunda Conferência Internacional sobre Nutrição.

Francisco sustentou que, no esforço para eliminar a fome a comunidade internacional deve rejeitar sistemas de “discriminação” que ligados à “capacidade de acesso ao mercado dos alimentos”.

A luta contra a fome e a desnutrição, alertou, é dificultada pela “prioridade do mercado” e pela “preeminência da ganância”, que reduziram os alimentos a “uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira”.

“Nenhuma forma de pressão política ou económica que se sirva da disponibilidade de alimentos pode ser aceitável”, sublinhou Francisco.

A este respeito, acrescentou que o direito à alimentação só será garantido se houver preocupação “com o sujeito real, ou seja, com a pessoa que sofre os efeitos da fome e da desnutrição”.

O Papa saiu em defesa do direito à alimentação e o direito à vida e a uma existência digna, bem como pelo direito a ser protegidos pela lei, “nem sempre próxima da realidade de quem passa fome”, e recordou a “obrigação moral de partilhar a riqueza económica do mundo”.

“Pessoas e povos exigem que a justiça seja colocada em prática; não apenas a justiça legal, mas também a contributiva e a distributiva”, precisou.

Perante o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, e a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, Francisco elogiou a decisão de reunir nesta conferência representantes de Estados, instituições internacionais, organizações da sociedade civil, do mundo da agricultura e do setor privado.

"Há comida para todos, mas nem todos podem comer, enquanto o desperdício, o descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão à frente dos nossos olhos", realçou.

Nesse contexto, disse que a Igreja Católica está atenta a tudo o que se refere ao bem-estar “espiritual e material” das pessoas, em primeiro lugar das que “vivem marginalizadas e estão excluídas, para que sua segurança e dignidade sejam garantidas”.

A intervenção alertou para “suspeita recíproca” nas relações entre países que se transforma por vezes em “formas de agressão bélica e económica”.

Francisco falou numa “falta de solidariedade” nas relações pessoais e internacionais, pedindo que os responsáveis políticos se libertem de pressões “políticas e económicas” para cuidar da terra e evitar a sua destruição.

“Cada mulher, homem, criança, idoso, deve poder contar em todas as partes com estas garantias. E é dever de todo Estado, atento ao bem-estar de seus cidadãos, subscrevê-las sem reservas, e preocupar-se com a sua aplicação”, pediu.

A intervenção conclui-se com uma oração para que Deus “abençoe todos aqueles que, com diferentes responsabilidades, se colocam a serviço dos que passam fome e sabem atendê-los com gestos concretos de proximidade”.

“Peço também para que a comunidade internacional saiba escutar o apelo desta Conferência e o considere uma expressão da comum consciência da humanidade: dar de comer aos famintos para salvar a vida no planeta”, acrescentou.

OC

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