Algarve: Jornadas sócio-caritativas apontaram novos caminhos no combate à pobreza

Empresas não podem subordinar-se só aos interesses do capital

A Cáritas do Algarve promoveu neste Sábado as 9.ªs Jornadas de Acção Sócio-caritativa, dedicadas ao tema “Combater a pobreza e a exclusão social – novos caminhos”.

O encontro contou com a presença de cerca de 60 participantes, sensivelmente metade dos que aderiram nos últimos anos à iniciativa.

O vigário geral da diocese, Pe. Firmino Ferro, frisou que existem hoje novos problemas relacionados com o desemprego e que a pobreza atinge actualmente “extractos mais elevados” da sociedade, que “batem à porta” da Igreja.

Manuela Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, defendeu a execução de reformas conducentes à diminuição do leque salarial e lamentou que a prioridade dada aos lucros esteja a implicar “desemprego em alguns sectores e demasiada contenção de salários”.

A oradora considerou que a “eliminação da pobreza passa pela criação de um Observatório dedicado a esta área, bem como por uma acção de proximidade que envolva os próprios pobres”, o que “não se faz com técnicos sentados atrás da secretária”.

Os dirigentes políticos, por seu lado, deveriam ter definido um limiar da pobreza mais preciso, dado que ela não se mede apenas pelo nível de rendimento: “Nem sempre ao mesmo conceito coincide o mesmo nível de satisfação das necessidades básicas”, explicou, acrescentando que o fenómeno inclui a solidão, perda de raízes e desaparecimento de vínculos de solidariedade de vizinhança.

Mais do que um problema de justiça social, a pobreza é, no entender de Manuela Silva, uma questão de democracia: “Sociedade democrática, verdadeiramente inclusiva, é a que permite que todos tenham lugar e direitos”, o que está “muito longe” de acontecer.

Depois de alertar para o facto de a democracia poder ficar em risco “porque as tensões sociais acumulam-se”, a conferencista sugeriu a criação de modelos empresariais que respondam “a uma pluralidade de interesses e não apenas aos do capital”.

“Não podemos continuar a ter empresas que são unicamente capital. É um poder que se sobrepõe ao poder do Estado”, denunciou.

O presidente do Instituto da Segurança Social (ISS), Edmundo Martinho, reconheceu que o combate à pobreza deve ser desenvolvido em torno de políticas públicas centradas nos direitos dos cidadãos.

O responsável apelou a que se deixe de associar o direito à habitação a um “caminho quase inevitável para a exclusão” e sustentou que é preciso “parar a construção de bairros sociais” para “inovar nesta matéria”.

Edmundo Martinho constatou que “nada do que tem vindo a ser feito e afirmado assume a crise como uma oportunidade de renovar e inovar” e realçou que “devemos ter capacidade para encontrar soluções novas”.

O conferencista expressou a sua preocupação pelo facto de alguns Estados membros da União Europeia se oporem ao objectivo de redução da pobreza (que atinge cerca de 80 milhões de pessoas) e lembrou que o Programa de Estabilidade e Crescimento português “tem gerado algumas perplexidades na forma como aborda a questão dos apoios sociais”.

Rita Valada Marques, da Cáritas Portuguesa, afirmou que “os últimos dois anos foram particularmente sensíveis”, sublinhando que muitos daqueles que ultrapassam a situação de carência tornaram-se nos “novos voluntários e potenciais beneméritos” da instituição.

Depois de enumerar as diversas campanhas em favor dos mais necessitados, a responsável lembrou que o combate “contra a pobreza e exclusão social não é uma luta que possamos fazer sozinhos”, tendo afirmado a disponibilidade para colaborar numa “tarefa que cabe a todos” e “não apenas aos políticos”.

A dirigente defendeu uma “alteração da postura da Cáritas em Portugal” e disse que este organismo precisa de divulgar as suas iniciativas de forma mais eficaz.

Neste sentido, o jornalista Joaquim Franco salientou que “o direito à informação tem de fazer parte da estratégia de combate à exclusão e à pobreza”.

Referindo-se aos “poderes” que “dominam e determinam o processo mediático”, o repórter da SIC assinalou que “a capacidade de gerar emoção é a via rápida para o sucesso mediático”, caracterizado pela “dimensão do efémero”, embora também haja histórias nos meios de comunicação social que interpelam a audiência.

Redacção/Samuel Mendonça

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