Algarve: 25 anos e 750 mil quilómetros depois, D. Manuel Quintas conhece todos os recantos da diocese

Proximidade e missão são marcas da liderança de um bispo que ficou surpreendido com as tendências políticas na região e valoriza o conhecimento dos candidatos nas autárquicas

Foto: Samuel Mendonça/Folha de Domingo; concerto de homenagem pelo jubileu episcopal

Faro, 06 set 2025 (Ecclesia) – O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, afirmou que os 25 anos de episcopado e de trabalho naquela diocese, celebrados na última quarta-feira, lhe permitiram conhecer a realidade daquele território, na qual já percorreu 750 mil quilómetros.

“Eu penso que deve haver pouca gente no Algarve que conheça tão bem a realidade algarvia, mesmo geográfica, como eu, devido a isso. Devido ao meu serviço, à minha missão e ao facto de eu querer estar presente em toda a realidade”, afirmou o responsável católico, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Natural de Mazouco, em Bragança, D. Manuel Quintas recebeu a nomeação episcopal em 2000, tendo servido primeiramente a Diocese do Algarve como bispo auxiliar e depois como bispo diocesano.

“Eu senti-me, de facto, quase como numa terra não estranha, nem estrangeira, mas desconhecida. E era muito curioso quando o D. Manuel [Madureira Dias] me dizia: ‘no próximo domingo você vai àquela terra, à outra’. E eu disse: ‘sr. bispo, vamos lá procurar no mapa onde é que isso está, que é para eu saber o caminho que devo fazer para ir para lá’”, conta.

O bispo do Algarve relata que atualmente percorre uma média de 25 mil a 30 mil quilómetros por ano pelo território diocesano do Algarve, para os quais também contribuem as visitas pastorais.

Há 25 anos, depois de terminar o serviço como superior provincial da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (dehonianos), D. Manuel Quintas preparava-se para ir para Angola, onde era necessária uma presença missionária.

Foto Luís Guerreiro

“Eu senti interiormente um chamamento renovado à vida missionária e quis manifestar esse meu desejo, mas não consegui porque, entretanto, fui nomeado bispo” por São João Paulo II, explica.

No entanto, o entrevistado realça que acabou por se sentir chamado a ser missionário no Algarve.

“A minha resposta ao Papa, que me nomeou bispo auxiliar, de certa maneira foi uma resposta missionária. Até porque eu não conhecia esta realidade do Algarve. Conhecia uma parte do Algarve, sobretudo a Vila Real Santo António, onde está lá uma comunidade dehoniana e iniciámos lá enquanto era provincial”, refere.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo do Algarve abordou ainda outras dimensões do território diocesano, nomeadamente a política, comentando a opção por liderança partidárias ligadas à extrema-direita.

Reconheço a minha incapacidade de encontrar uma resposta capaz para isso. Porque foi uma surpresa para mim, e penso que foi para todos, na verdade, aqui no Algarve, os resultados das últimas duas eleições, a esse nível. Eu penso que é algum cansaço da parte dos eleitores”, considera.

Apesar disso, D. Manuel Quintas indica que os “eleitores têm sempre razão”, “escolham uma coisa ou escolham outra”, uma vez que é uma “opção deles”.

“Agora, compete-nos a nós interpretar essa escolha, saber as motivações que os levam a isso, e, naturalmente, ajudar esta gente a esclarecer-se um bocadinho melhor, para que a sua opção seja, de facto, uma opção consciente. Se continuar a ser essa, temos que respeitar”, salientou.

Embora ainda não tenha uma opinião formada sobre as eleições autárquicas, que se realizam no dia 12 de outubro, o bispo diocesano dá conta que as pessoas “não votam num desconhecido”, mas sim “em pessoas conhecidas”.

“E isso talvez pese muito nas opções pessoais”, enfatizou.

Sobre a realidade social na diocese, D. Manuel Quintas falou ainda sobre o caso de 38 migrantes marroquinos que desembarcaram a 08 de agosto em Vila do Bispo, no Algarve.

“Devemos estar atentos e despertos”, disse o bispo, sobre a possibilidade de acontecerem mais episódios, destacando que o acolhimento e humanidade são importantes.

Apesar de desta vez não ter sido necessária a “intervenção das paróquias ali daquela zona”, D. Manuel Quintas manifestou a abertura da igreja diocesana para o acolhimento.

“Nós estamos disponíveis para isso, se for necessário entramos”, sublinhou.

A entrevista a D Manuel Quintas, é exibida no Programa 70×7 deste domingo, pelas 17h36, na RTP2, a propósito dos 25 anos de ordenação episcopal, na qual se abordam temas como a exposição de arte sacra evocativa desta data, a abertura do Paço episcopal em 2019, a ligação do bispo à agricultura e a atribuição de responsabilidades aos leigos nas comunidades.

PR/LJ/OC

Igreja: D. Manuel Quintas celebrou 25 anos de ordenação episcopal e de trabalho na Diocese do Algarve (c/ fotos)

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