Alemanha: Papa lembra papel da fé na queda do Muro de Berlim

Bento XVI despede-se da antiga RDA criticando consequências religiosas e inteletuais dos regimes nazi e comunista

Erfurt, Alemanha, 24 set 2011 (Ecclesia) – Bento XVI saudou hoje na Alemanha oriental a resistência da Igreja germânica face à ditadura nazi e ao regime comunista, em parte do território, sublinhando o papel dos católicos na queda do Muro de Berlim.

“As mudanças políticas do ano 1989, no nosso país, não foram motivadas apenas pelo desejo de bem-estar e liberdade de ir e vir, mas também, e de modo decisivo, pelo anseio de veracidade”, disse, na praça que rodeia a catedral de Erfurt, onde se reuniram dezenas de milhares de pessoas.

“Este anseio foi mantido desperto, para além do mais, por pessoas que se devotaram totalmente ao serviço de Deus e do próximo e estavam dispostas a sacrificar a própria vida”, prosseguiu.

O Papa homenageou os “muitos católicos resolutos” que “permaneceram fiéis a Cristo e à Igreja, precisamente na difícil situação de uma opressão exterior” e “aceitaram arcar com desvantagens pessoais, para viverem a própria fé”, convidando a assumir esa fé como “força pública” na Alemanha atual.

“Se recuarmos com o pensamento até 1981, o ano jubilar de Santa Isabel, há trinta anos – eram os tempos da República Democrática Alemã (RDA) –, quem teria imaginado que o muro e o arame farpado nas fronteiras cairiam poucos anos depois?”, perguntou, na homilia da missa a que presidiu na capital da Turíngia.

“Se recuarmos ainda mais – cerca de setenta anos – até 1941, até ao tempo do nacional-socialismo, quem seria capaz de predizer que o chamado «Reich milenário» ficaria reduzido a cinzas apenas quatro anos mais tarde?”, acrescentou.

Numa intervenção que se transformou em tributo, o Papa repetiu agradecimentos a todos os que mantiveram a fé apesar da falta de liberdade, também “no meio da diáspora e num ambiente político hostil à Igreja”, bem como aos que promoveram uma “pastoral dos refugiados imediatamente depois da II Guerra Mundial” (1939-1945).

“Especialmente em Eichsfeld [localidade onde esteve esta sexta-feira, junto de um pequeno santuário dedicado à Virgem Maria], houve muitos cristãos católicos que resistiram à ideologia comunista. Queira Deus recompensar abundantemente a perseverança na fé”, declarou.

Bento XVI referiu que, ainda hoje, a maior parte das pessoas na região “vive longe da fé em Cristo e da comunhão da Igreja”.

“Amados irmãos e irmãs, aqui na Turíngia, na República Democrática Alemã de então, tivestes de suportar uma ditadura «pardacenta» [nazi] e uma «vermelha» [comunista], cujo efeito sobre a fé era parecido com o que tem a chuva ácida. Desse tempo, há ainda muitas consequências tardias a debelar, sobretudo no âmbito intelectual e religioso”, apontou.

O Papa alemão sublinhou, em seguida, as últimas décadas “mostram também experiências positivas: um horizonte mais largo, um intercâmbio para além das fronteiras”.

Falando dos santos e mártires ligados à região, pediu a “coragem” para um novo despertar da fé: “Os santos mostram-nos que é possível e que é bom viver, de modo radical, a relação com Deus, colocando Deus no primeiro lugar e não como uma realidade entre as outras”.

“Não queremos esconder-nos numa fé apenas privada, mas queremos administrar responsavelmente a liberdade alcançada”, frisou.

A missa teve um momento pouco comum, quando o primeiro texto bíblico proferido durante a celebração foi lido, em braille, por um invisual.

Após a missa, Bento XVI inicia um voo de uma hora e 380 quilómetros rumo a Friburgo, no sudoeste da Alemanha, que recebe um Papa pela primeira vez.

OC

Notícia atualizada às 11h30

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