Alegria e humor na Fé

Desde 22 de Setembro de 1994 que o P. António Estevinho exerce o seu trabalho pastoral nas paróquias de Rossas, São Nicolau de Salsas com Vale de Nogueira, Freixeda, e Moredo, São Nicolau de Pinela com Valverde, Santa Maria Madalena de Rebordaínhos, com os Pereiros, do Arciprestado de Bragança.Paróquias de ambiente rural, próximas de Bragança, muito envelhecidas, graças à expurga dos mais jovens para as migrações internas e externas, abafadas por isso na criatividade e na iniciativa no âmbito religioso social e cultural. Povo afável e hospitaleiro, com um espírito de “antes quebrar que torcer”, apesar de tudo têm conseguido manter com elevação as suas raízes. Considerando-se um amante do desporto e da cultura, o pároco vê a alegria e bom humor como alguns dos pilares essenciais na sua missão evangelizadora. Como assiste as 9 comunidades? Celebro 2 Missas vespertinas ao Sábado e 3 a 4 ao Domingo. Mantenho o costume antigo de em 2 delas celebrar no último Domingo do mês, noutras quinzenalmente, uma vez ao domingo outras vezes ao sábado, e no 1.º domingo do mês no Santuário dos Chãos. Com regularidade possível dou assistência à semana. Como organiza a catequese? O universo das crianças e jovens nas 9 comunidades que me estão atribuídas é reduzido, pouco ultrapassando, dos 5 aos 18 anos, a meia centena de pessoas. Apesar de poucos, na generalidade, são participativos e colaborantes a seu modo, enfrentando as dificuldades dos outros da sua idade. Com a ajuda de catequistas asseguro a iniciação cristã, preparação para a primeira comunhão e para o sacramento do crisma. Pessoalmente assumo, a partir de Salsas ao domingo à tarde, a preparação para o Crisma de uma dezena de jovens, acolhendo ainda alguns de paróquias vizinhas. Qual o papel dos Santuários no conjunto da sua actividade pastoral? “Os Santuários têm sido, ao longo dos tempos, indicadores de referência para definir a identidade cultural e espiritual dum povo”, espaços privilegiados “da proclamação da Palavra de Deus, da celebração dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia”. Na área geográfica da minha paróquia existem dois. O do Divino Senhor dos Chãos, no nó do IP4, Vale de Nogueira, e o Santuário da Senhora do Pereiro, no profundo interior de Santa Comba de Rossas. São lugares únicos pelo ambiente, pelo espaço de natureza, conjugando a piedade, e a graça. A Confraria do Divino Senhor dos Chãos promove todo o ano, no 1.º domingo do mês, a celebração da Eucaristia, e a feira, bem como as cerimónias da Semana Santa e da Vigília Pascal, pelo 3 de Maio assinala a Invenção da Santa Cruz e de 5 a 14 de Setembro as novenas, e a Festa da Exaltação da Santa Cruz. A Sr.ª do Pereiro assinala no dia 15 de Agosto a Assunção de N.ª S.ª, antecedida de novena preparatória. O primeiro têm uma abrangência inter concelhia, congregando mais de uma vintena de povoações, a Sr.ª do Pereiro confina-se mais à localidade de Santa Comba de Rossas. Os Chãos têm possibilitado a centralização de muitos actos litúrgicos ajudando a suprir a dificuldade da escassez de clero. Este lugar afigura-se como alternativa para assegurar, ao domingo e nas maiores festividades litúrgicas, uma maior e mais participativa assembleia, tendo em conta que as localidades vizinhas enfrentam a já assinalada desertificação progressiva. Tem-se também revelado um espaço de participação de múltiplas comunidades, na preparação da novena. Está a implementar a renovação urbanística do santuário e da zona envolvente. Depois de ter pavimentado o “adro”, desafogado a igreja, das más construções a ela adoçadas, tem agora o projecto aprovado com parecer favorável do estado para construção do edifício sede da confraria. Como desafio pensa-se ainda num pavilhão multiuso, que poderá, entre outros, acolher, pela sua localização estratégica diversos eventos. Depois de tudo isto fica ainda a aguardar a conclusão dos arranjos urbanísticos de toda a zona envolvente. Que outras actividades exerce na sua actuação pastoral? Sou Presidente, por inerência do exercício da paroquialidade, dos Centros Sociais e Paroquiais de Santo Estêvão de Pinela, Santa Comba de Rossas, e São Roque de Salsas. A acção sócio caritativa, formalmente assumida pelos Centros, tem absorvido bastante do meu tempo. Esta actividade incompreendida por muitos, dentro e fora da Igreja, é para mim uma proposta irrecusável, uma maneira de dar expressão ao amor e à solidariedade emanada do ensinamento social da Igreja, e uma forma de colaborar na implementação da justiça social. O Lar de Idosos de Santa Comba de Rossas tem mais de um ano de efectivo funcionamento e mantêm ainda a valência de Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). O edifício do lar de Salsas está concluído quanto ao “esqueleto e cobertura”, aguardando financiamento do estado através do programa PARES. Esta instituição têm ainda as valências de Centro de Dia (CD), o SAD e o Apoio Domiciliário Integrado (ADI). Pinela estoicamente persiste e resiste, mas funciona, como CD. Serve de forma única, pequeno-almoço, almoço e jantar 7 dias na semana a mais de duas dezenas de idosos. Neste Centro os mais velhos tem não só um refeitório, mas um espaço sócio cultural dinâmico onde assinalam os seus aniversários, a par de outros tipos de animação, servindo ainda na valência de SAD. Desde 1993 tenho participado em vários Secretariados e Serviços Diocesanos, Administrativos, Juventude, Migrações, Bens Culturais da Igreja, Mensageiro de Bragança, entre outros, simplesmente pela paixão de servir e pelo gosto de fazer e ver surgir. É também assim que venho assumindo a missão nos Escuteiros, como responsável pela Assistência Regional. Ao longo dos tempos fui-me deixando contagiar pela experiência positiva de colegas e amigos, permitindo-me destacar a figura ímpar do saudoso Cónego Belarmino Afonso (+ 3 de Dezembro de 2005, Vigário da Cultura, e Assistente Regional dos Escuteiros), com quem aprendi muito. Como evoluiu a dimensão do culto, da cultura, e do desporto na sua vida? Desde sempre recebi da família o gosto de participar activamente na vida da Igreja, quer na eucaristia dominical, quer nos grupos eclesiais e paroquiais (acólitos e Legião de Maria), que me ajudaram a definir o meu percurso vocacional. Fui descobrindo os jornais e revistas juvenis, o coleccionismo, a fotografia, a banda desenhada, o cinema, o teatro, a prosa, a poesia, e por fim a literatura e os livros de teologia e científicos. A prática do desporto é mais recente, na escola tinha até uma certa alergia a esta matéria. Já depois de ordenado padre iniciei-me nas caminhadas com os escuteiros, no Kung-Fu com o mestre Paulo Neiva, e ultimamente tenho desenvolvido e divulgado esporadicamente a prática de tiro com arco. Mais não tenho feito agora por limitações físicas e de saúde. Contudo recomendo apaixonadamente, aos jovens e menos jovens, que ampliem todas estas dimensões, por elas somos mais felizes, por elas crescemos na vida e na alegria. Pelo seu estado de vida participa em muitas causas. Quais as que o têm motivado mais? Nisto das causas tenho amigos que me consideram muito afecto às “causas perdidas”. Isto porque quando levaram o comboio de Bragança, eu manifestei exuberantemente, perante os mais próximos, a minha discordância, e de todo esse esforço valeu-me apenas o epíteto. Desde a faculdade que acompanho a causa de Timor, que contrariamente à opinião de muitos, felizmente, apesar do moroso processo, teve um desenvolvimento positivo. Motivou-me também o trabalho na Comissão Diocesana que preparou o “Grande Jubileu do ano 2000”, suscitado pelo Papa João Paulo II, pela abrangência que teve em variadíssimos sectores da vida social e eclesial. Ultimamente, na comemoração do Ano da Eucaristia (Outubro de 2004 – Outubro de 2005), senti um particular gozo em ter ajudado a coordenar a edição de um CD de música Eucarística “ao partir do pão”. Juntando a “prata da casa”, reuniram-se vários autores, compositores, e coros de Bragança e Miranda. Surgiu uma obra, que congregou muitas vontades e sensibilidades diferentes, e nunca pensei ver tanta mobilização em tão pouco tempo. Foi daquelas experiências marcantes. Duas atitudes que aprecie? A alegria e o riso. A alegria procuro cultivá-la desde a fé, em Cristo ressuscitado. A alegria em Cristo é o princípio do homem redimido e feliz. Rio para acalmar o meu excesso de auto-estima, e para apreciar com humor as excessivas formalidades sociais, políticas, antropológicas, e culturais da vida. Para mim o aforismo antigo, “o riso castiga os costumes”, continua válido com frescura e actualidade. O bom humor é uma fortíssima alavanca que me tem ajudado a ultrapassar dificuldades, e a desbloquear situações de alguma complexidade. No fundo tem-me ajudado a compreender e aproximar das pessoas, a alimentar a afabilidade. No fundo acredito que o humor e a alegria nos tornam mais irmãos, quer nos consideremos filhos de Adão e Eva ou parentes pelo macaco. Sinto-me realizado, vivendo a alegria própria da fé, com humor, procurando assinar assim o meu projecto de vida saudável. Perfil: António Carlos Estevinho Pires, filho de Francisco Gonçalves Pires e de Delmina de Jesus Estevinho, nasceu a 16 de Junho de 1965, é natural e residente na Freguesia da Sé, concelho de Bragança, exerce o ministério sacerdotal na Diocese de Bragança-Miranda desde a ordenação em 20 de Junho de 1993. Alberto Pais

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