Alegria e felicidade das famílias em Valência

D. António Carrilho, Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, faz balanço do V Encontro Mundial das Famílias com o Papa em entrevista à Agência ECCLESIA Realizou-se em Valência (Espanha), de 2 a 9 de Julho, o V Encontro Mundial das Famílias , com o tema “A transmissão da fé na família” e que teve o seu ponto alto no Encontro Festivo da noite do dia 8, com o Papa Bento XVI, e na Eucaristia Final, presidida por ele e concelebrada por cerca de 50 Cardeais, 450 Bispos e 300 Sacerdotes, numa grande Assembleia de Famílias de todos os Continentes, estimando-se em perto de um milhão de pessoas o número de participantes. Sobre este Encontro, D. António Carrilho, Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família (CELF), um dos 4 Bispos participantes como delegados da Conferência Episcopal Portuguesa, respondeu a algumas perguntas. Agência ECCLESIA – O V Encontro Mundial das Famílias foi, sem dúvida, um grande acontecimento eclesial. Como se processou a participação portuguesa neste Encontro? A Igreja em Portugal envolveu-se e comprometeu-se, de facto, nesta iniciativa do Conselho Pontifício para a Família, em articulação com a Diocese de Valência? D. António Carrilho – A Comissão Episcopal do Laicado e Família (CELF), através do seu Departamento Nacional de Pastoral Familiar, procurou motivar e mobilizar os Secretariados Diocesanos e as Direcções Nacionais dos Movimentos de Pastoral Familiar, que, em diálogo conjunto, concluíram deverem ser eles próprios a assumirem a organização e a inscrição dos respectivos grupos de peregrinos. Não houve, por isso, uma organização centralizada da participação portuguesa. Sabemos que alguns Secretariados tiveram muitas dificuldades em receber informações, sobretudo quanto aos alojamentos, o que os fez limitar os seus projectos de participação. Os Movimentos e Associações de Pastoral Familiar organizaram-se, com mais facilidade, através dos seus congéneres em Espanha. Em Valência, as bandeiras portuguesas, que se iam avistando, conduziram-nos até junto de alguns grupos, mas ainda assim, neste momento, não é possível saber ao certo o número de portugueses, que lá estiveram. Já se ouviram referências a cerca de 5.000… É um número possível, que até pode ter sido ultrapassado. Como motivação e preparação do Encontro, o Departamento Nacional facultou aos referidos Secretariados e Movimentos o texto das dez catequeses, elaboradas para o efeito pela Organização Central. AE – Poderá dizer-se que o V Encontro Mundial das Famílias teve o impacto desejado e até esperado? AC – É difícil avaliar, com precisão, o impacto duma actividade desta natureza, mas penso que sim e talvez até tenha excedido as expectativas. Digo isto, sobretudo, pela forma como se concretizaram os diversos pontos do programa e a Comunicação Social lhes deu cobertura, levando a mensagem a tantas partes do mundo. Como é óbvio, foi o Encontro das Famílias com o Papa, que maior participação e repercussão teve, tanto na Festa da noite de sábado como na Eucaristia final, na manhã do domingo. Mas os outros pontos do programa também realizaram os seus objectivos: a “Feira as Famílias” e os Congressos. A primeira com muita informação sobre o que se faz no mundo a favor das famílias e com espaços de ocupação das crianças e de convívio dos pais com os filhos. Quanto aos Congressos, foi interessante e útil complementar a reflexão e informação do Congresso Teológico-Pastoral com a reflexão e propostas dos Congressos dos Filhos (16-25 anos) e dos Avós, todos eles com boa participação, num total de 9.200 pessoas inscritas. A riqueza destes trabalhos tornar-se-á mais conhecida com a publicação integral das conclusões e das respectivas actas. AE – Pensando nas últimas leis do Governo espanhol sobre questões da família e da vida, poderia entender-se a realização deste Encontro Mundial, em Espanha, como afirmação de força da Igreja, ali… AC – Como se sabe, o Encontro foi convocado para Espanha, há três anos, por João Paulo II, e confirmado por Bento XVI imediatamente após a sua eleição. É claro que não foi organizado para qualquer tipo de “confronto” com os grupos da sociedade espanhola, que se norteiam e lutam por princípios diferentes; nem faltam, em Espanha, oportunas tomadas de posição quanto aos princípios e ideais da Igreja Católica sobre o matrimónio, a família e a vida, tanto por parte dos Bispos como dos leigos e associações de famílias. Um Encontro Mundial perspectiva-se, sempre, no horizonte alargado das necessidades sentidas em muitas partes do mundo, ainda que de formas e maneiras diferentes. E foi bom ver como se conseguiu congregar no Congresso Teológico Pastoral uma assembleia tão numerosa e de tão grande expressão eclesial (leigos/famílias, sacerdotes, religiosos/as, Bispos, Cardeais), não só a afirmar princípios, mas a partilhar a vida e experiências concretas das realidades e necessidades das famílias. Certamente que a difusão de toda esta “mensagem” não deixará de ter eco e fazer pensar a sociedade espanhola, quanto aos caminhos que ali estão a ser trilhados. AE – O programa do Congresso Teológico-Pastoral era de facto aliciante, tanto pelos temas como pelos nomes dos especialistas que os introduziam e abordavam. Correspondeu, de facto, às expectativas? Houve “novidades” ou simples repetição de princípios já afirmados pelo Magistério da Igreja? AC – O tema base “A transmissão da fé na família” era, sem dúvida, de grande interesse para a Igreja de hoje, como bem o sentimos entre nós. A vivência da fé nas famílias e o que os pais fazem como iniciação dos filhos à oração, apoio e acompanhamento da catequese paroquial, etc., reclamam uma atenção grande para a pastoral actual. Foi bom ver como o Congresso abordou o tema, centrando-o na vivência e experiência de fé que os pais e toda a família transmite, quando se vive o ideal cristão de família. Não é, apenas, uma questão de “ensinar a doutrina”, mas a vida toda da família em experiência de fé, por onde passam todas as realidades que a caracterizam e afectam: o amor, a vida, o trabalho, a economia, o sofrimento… Se houve “novidades”, é certo que o maior conhecimento da realidade, a reflexão e a partilha de experiências tão diversificadas, conduzem, naturalmente, a algo de novo; pelo menos, a uma nova consciência das realidades e das responsabilidades. Mas o principal foi a força da convicção e a afirmação reiterada da importância e valor da família, como célula fundamental da Sociedade e da Igreja. Uma família constituída a partir do matrimónio entre um homem e uma mulher, comunidade de amor aberta à vida. AE – Quando poderemos dispor do texto integral das conclusões e das actas do Congresso? AC – As conclusões foram proclamadas no fim do Congresso e mereceram o aplauso dos participantes, num texto provisório, que ficou para ser enriquecido com algumas notas e referências à doutrina da Igreja; penso que serão publicadas muito em breve, na sua versão integral. Quanto às actas, também poderão ser divulgadas dentro de não muito tempo, pois todas as comunicações foram apresentadas por escrito. Gostaria, no entanto, de sublinhar que, para além das ideias e princípios, foi muito importante a tónica de esperança sempre afirmada, mesmo perante as múltiplas “sombras” e toda a problemática emergente da cultura actual, secularizada e secularizante. A fonte dessa esperança está na força do testemunho de alegria e felicidade de tantas famílias, de países e culturas diferentes, precisamente por viverem o ideal de família que a Igreja lhes propõe. AE – Gostaria de destacar algumas ideias ou “linhas de força” a que foi sensível e considera válidas e oportunas para o nosso meio social e eclesial? AC – No conjunto de tantas afirmações e propostas, várias vezes repetidas e com aplicações práticas concretas, é difícil fazer uma selecção… De qualquer modo atrevo-me a destacar, em síntese, quatro afirmações que são verdadeiras interpelações, em termos de comportamentos pessoais e pastorais. Assim: – A consciência de que a família é importante para formar o homem e a mulher, é o melhor lugar de humanização; e a família cristã é indispensável para formar o cristão, é o principal âmbito da educação da fé. – A hora presente é de “emergência educativa” para todos e de todos os membros da família e dos jovens, em particular, promovendo-se e apoiando a descoberta dos valores humanos e cristãos, necessários à vida em família e em sociedade. Desta emergência resultará o que se chamou “a conversão dos pais aos filhos”, deixando os pais de estarem “ausentes”, como tantas vezes acontece, para se tornarem “presentes” aos filhos, com mais tempo para eles e maior esforço de compreensão do “mundo cultural deles” (música, leitura, TV, etc.). – A importância e o valor do testemunho das famílias cristãs na nova evangelização, como pequenas “Igrejas Domésticas”, e a necessidade delas viverem uma experiência de Igreja na Igreja. Nestes aspectos muito se espera dos Movimentos e Serviços de Pastoral Familiar. – A necessidade de maior intervenção das associações de famílias na vida social e política, na afirmação pública dos valores e na promoção/defesa dos direitos da família. A este propósito foi recordado o empenho e capacidade de intervenção do “Fórum das Famílias”, em Espanha. AE – O ponto alto desta Jornada Mundial, em Valência, foi sem dúvida, o Encontro das Famílias com o Papa. Qual foi a principal mensagem de Bento XVI para a Igreja e para o Mundo? AC – Relativamente ao Papa, impressionou a sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a sua forte convicção e serenidade nas afirmações dos grandes princípios do Magistério da Igreja, sem qualquer inibição perante ideologias, contestações ou comportamentos contrários. Impressionou a consciência de missão, aparecendo o Papa como alguém que propõe um caminho, um ideal de vida de família, que salvaguarda e realiza os valores evangélicos, na sua dimensão humana e cristã. Um ideal ali confirmado, como já referi, pelo testemunho de tantos casais e famílias de todos os Continentes, como caminho que é viável e conduz à felicidade. Esta mensagem de Bento XVI perpassa todas as suas intervenções, mas está especialmente desenvolvida e condensada no discurso da vigília de oração, na noite de sábado, e na homilia da Missa de Encerramento do Encontro, na manhã do domingo. São dois textos que será bom conhecer e dar a conhecer na íntegra, até como proposta de reflexão e debate nas famílias cristãs e nos Movimentos de Espiritualidade e Pastoral Familiar. AE – Da mensagem do Papa e de todo o dinamismo do V Encontro Mundial das Famílias, quais as interpelações, estímulos e desafios para a pastoral familiar entre nós? Algum contributo ou exigência especial? AC – Interpelações e desafios concretos não faltam na mensagem do Papa, como não faltam estímulos de toda a dinâmica do Encontro, pela reflexão e testemunhos nele partilhados. Pensando na pastoral familiar, em Portugal, existe um caminho apreciável já realizado tanto no âmbito nacional (Comissão Episcopal, Associações e Movimentos) como nas Dioceses, sendo várias as que, neste momento, contemplam a família nas prioridades dos seus planos pastorais. No entanto, é preciso e é possível fazer muito mais pelas famílias e com as famílias. Como desafios do Encontro, apenas sublinharia ainda a necessidade de: – intensificar esforços de evangelização e catequese das famílias, mediante formas de comunicação e linguagem que torne acessível e mais compreensível o pensamento da Igreja sobre o fundamento antropológico da família e o enriquecimento significado pelo matrimónio cristão; – criar “redes de apoio” às famílias, através da acção conjunta dos serviços paroquiais e diocesanos, movimentos familiares e outras associações eclesiais, consoante as suas capacidades e carismas. Em suma, o que está em causa é prosseguir caminhos de renovação da pastoral familiar, assegurando efectivamente a solicitude da Igreja pelas famílias, tendo em atenção os seus problemas e reais necessidades. Lembrando as palavras de Bento XVI aos Bispos de Espanha, trata-se também entre nós de “dar um novo impulso à família como santuário de amor, da vida e da fé” e promover “uma incessante e incisiva pastoral familiar nas dioceses, que faça entrar a mensagem evangélica, que fortaleça e dê novas dimensões ao amor, ajudando assim a superar as dificuldades que encontra no seu caminho”.

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Agência ECCLESIA

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