Aldeias inteiras dizimadas em Cabinda

Episcopado angolano lança alerta sobre a situação no enclave O bispo da província angolana de Cabinda, D. Paulino Madeca, alertou hoje para a situação no enclave do Norte angolano, onde “aldeias inteiras foram dizimadas”. Em declarações à imprensa local, D. Madeca diz que essa situação é resultado da dominação do exército angolano. O bispo cita os dois relatórios já publicados com o elenco das vítimas das violações dos direitos humanos, e comenta: “eu vivi a guerra da libertação contra o colonialismo, estive no Maiombe na altura em que o MPLA estava nas matas, na altura em que a FNLA esteve nas matas, e nunca assisti ao que estou a assistir agora. Nunca, nunca, nunca!” “Aldeias inteiras a serem dizimadas, a fugirem apressadamente senão morrem, e o povo está cada vez a ficar mais pobre. Nós achamos que é uma injustiça. E é!”, acrescenta. Os bispos de Angola estão reunidos em assembleia, desde ontem, tendo reconhecido que no aspecto político-militar existe uma certa acalmia na vida da população, com a excepção de Cabinda, onde “ainda há casos de conflito armado latente”, segundo o porta-voz da assembleia, D. Gabriel Mbilingi. O bispo de Cabinda desmentiu a tese das Forças Armadas Angolanas de que a situação no terreno estaria “controlada”. “Quem conhece as aldeias como eu, sabe que isso não é verdade, que a população não está satisfeita nem é livre”, acusou D. Madeca. Em função deste clima de tensão, o prelado mostrou-se pessimista em relação ao futuro de Cabinda. “Não sei o que nos espera, um dia pode acontecer um banho de sangue”, afirmou. D. Paulino Madeca queixa-se ainda de ter o telefone sob escuta. “Desde há duas ou três semanas notei que estou a ser bem apertado pela Segurança, no que diz respeito aos telefones”, revelou em entrevista à rádio Ecclesia. O bispo admite que as relações da Igreja com as autoridades já foram melhores do que agora. “A gente nota que há má vontade. O que nós fazemos é defender o povo. Ele vem queixar-se a nós a toda a hora, sofrem nas suas aldeias e vêm ao bispo, vêm aos padres”, revela.

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