Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
Jesus, é sabido pelos relatos dos Evangelhos, costumava ir ao encontro de gente pouco recomendável para os padrões da época. Os seus críticos usavam repetidas vezes como argumento a proximidade de Cristo com “pecadores e publicanos” – porque o verdadeiro Messias nunca poderia entrar em contacto com gente impura. A ‘revolução da ternura’ de que o Papa Francisco tantas vezes fala não é uma invenção piedosa, mas uma consequência prática da fé cristã, quando se inspira nas palavras e gestos do próprio Jesus Cristo, que nunca deixou de ir ao encontro de quem era excluído da sociedade, muitas vezes em nome de preceitos religiosos.
A respeito do famoso episódio de Zaqueu, um “explorador” do seu povo que Jesus chama pelo nome, para entrar em sua casa, o Papa argentino traçou um retrato do que muitos julgam que teria sido a atitude correta: ‘Desce, tu, explorador, traidor do povo! Vem falar comigo, para acertarmos contas!’. Como a opção cristã é outra, lembra Francisco, muitos começam a “murmurar”.
Ser católico é, necessariamente, ir ao encontro de quem é diferente, de quem vive de outra forma, porque só assim é possível testemunhar a própria fé. Com a convicção de que também é possível aprender e não apenas ensinar.
O pontificado de Francisco, que acaba de realizar uma viagem à Suécia nos 500 anos da reforma protestante – mais preocupado em apontar ao futuro do que em ‘acertar contas’ -, tem sido pródigo em gestos e palavras que apontam nesse sentido, sublinhando a necessidade de levar à Igreja Católica para junto das “periferias” existenciais e geográficas do mundo de hoje. Porque, como o próprio disse esta quinta-feira, a humanidade “tem sede de misericórdia” e não há tecnologia que a possa matar. Só o amor.