Ajudar em tempo de crise

A situação de crise que assola o nosso país está num crescendo e alastra-se cada vez a mais famílias portuguesas. A Cáritas tem vindo a alertar para os sinais desde Maio de 2008, quando a Comissão Permanente recebeu e deu nota dos primeiros sintomas identificados na rede, e em Novembro, quando no Conselho Geral o diagnóstico já permitia uma tipifica-ção das situações-problema. Hoje, a realidade é inegável, é notícia, enche os jornais e os media em geral. A nossa frágil economia não encontrou os meios para fazer face à difícil conjuntura económica internacional. Na verdade a crise abalroou muitos, mas a leitura da realidade portuguesa e dos indícios internacionais exige que se pense de forma pró-activa, tentando antecipar os acontecimentos. A Cáritas viu, de uma forma geral, crescer o número de solicitações e confronta-se também com novas situações críticas que urge precaver. São pessoas que ficam de fora das medidas, das rotinas e dos apoios. A crise atingiu igualmente a classe média e são cada vez mais as famílias desta classe social que recorrem à Cáritas. Como noutras situações, muitas famílias que viviam suportadas por pequenas sociedades familiares não resistem à pressão. Elas exigem porventura alguma atenção, de forma a garantir a transitoriedade da sua situação crítica, salvaguardando tanto quanto possível o seu espírito empreendedor. Também as solidariedades de proximidade são afectadas pela situação, gerando duas situações antagónicas: a consciência de que, mais do que nunca, é necessário apoiar/ser solidário, e a dificuldade crescente de o concretizar. Assim, embora a sociedade civil esteja empenhada em colaborar ao nível individual e haja consciência solidária, que acreditamos crescente, existe no entanto menos disponibilidade para um apoio mais continuado de proximidade. Portugal confronta-se assim com múltiplos dilemas na abordagem a uma situação em que a ajuda de todos é imperiosa. A situação actual exige que todos se mobilizem de forma a convergir esforços numa atitude subsidiária com todas as medidas que possam vir a ser impleme-ntadas. Relembro as propostas que saíram, como conclusões, do Conselho Geral da Cári-tas, em Novembro último: – a promoção de medidas que impeçam a pressão do assédio sofrido pelas famílias no acesso a créditos; – maior atenção para a intervenção junto dos novos pobres, sobretudo quando um apoio puder garantir a transitoriedade da situação crítica; – a organização de campanhas, de âmbito nacional, com o objectivo de consciên-cializar as populações para a sua responsabilidade na economia dos recursos energéticos e outros; – o reforço das medidas de políticas activas de emprego e de formação profissional, bem como, como medida conjuntural, o prolongamento da duração da prestação social de desemprego, caso se verifique, como está previsto, um aumento significativo do desemprego; – a clarificação dos procedimentos conducentes à implementação das “acções de fundos imobiliários”; – a prossecução do esforço de incentivos à prescrição de medicamentos genéricos e de se introduzir nas farmácias, de todo o território nacional, a modalidade das unidoses. O Conselho Geral da Cáritas manifestou a sua convicção de que, mais do que uma crise financeira ou económica, podemos estar perante uma crise civilizacional de duração imprevisível, que nos obriga a agir de forma pró-activa, com particular incidência nos domínios da educação. Estes tempos são para encontrar formas de revitalizar a economia, para procurar novos meios de atenuar e compensar a escalada do desemprego, áreas que se impõem aos poderes públicos. É para as famílias que a Cáritas volta a sua atenção e, de uma forma geral, para todas as situações de precariedade. Através de cada diocese, cada paróquia, onde haja quem possa beneficar da sua ajuda. Com caridade e com uma visão atenta, promotora dos valores e da construção de uma sociedade melhor. Porque a pressão sobre os recursos é cada vez maior, a atenção tem também de se focar sobre a forma de encontrar recursos e a forma de os alocar. Uma linha estratégica importante assenta certamente na comunicação como meio de alertar consciências. Importa encontrar recursos que permitam o apoio pelas Cáritas Diocesanas e pelas paróquias. A relação entre a oferta de recursos e a necessidade está longe de ser adequada. De acordo com os estudiosos, a palavra crise tem na sua origem a mesma equivalência da palavra vento. Resta-nos tentar que, perante a inevitabilidade da situação que nos envolve, os ventos de hoje possam constituir uma oportunidade de crescimento e o reconhecimento de que agir em conjunto por um bem maior pode construir uma sociedade fortalecida pela certeza de que cada um de nós pode fazer a diferença, numa conjuntura fortemente negativa. Agir em tempo de crise exige que se adoptem estratégias de proximidade adequadas a cada realidade, usando os recursos formais e os que formos capazes de congregar e revitali-zando todas as parcerias. Penso que esse será o caminho. Rita Valadas Pereira Marques, Cáritas Portuguesa

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Agência ECCLESIA

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