Lisboa, 12 mar 2018 (ECCLESIA) – Os massacres na República do Congo têm continuado e um seminarista dos Missionários Combonianos classificou como “genocídio” o que se passa na província de Kivu Norte.
Em testemunho enviado à Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS), Eugène Muhindo Kabung, diz que é “horrível, é mesmo um genocídio o que se está a passar na província do Kivu Norte e em particular nas cidades Beni-Lubero”, de onde é natural o seminarista comboniano.
“Massacre de populações, violações de mulheres e crianças, raptos de crianças para fazer delas crianças-soldados. Desde 2009, este fenómeno aumenta de dia para dia. Desde então, vive-se autênticas barbaridades, onde muitas famílias foram massacradas e outras encontram-se num estado de pobreza e luto”, escreveu.
Morte, violência indiscriminada, autênticas barbaridades são expressas neste testemunho o que “lança diversas questões sobre o papel da comunidade internacional e de diversas organizações como as Nações Unidas face à violência em curso neste país africano”, como se pode ler num comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.
“Pergunto para que servem os 17 mil soldados da ONU? O número de viúvas, de crianças órfãs aumenta de dia para dia, famílias inteiras são exterminadas…”, questiona o seminarista.
O próprio Eugène Muhindo Kabung confessa que já perdeu “em menos de um ano quatro membros” da sua família que o “mais certo é que tenham sido mortos”.
Assegurando que “não podemos ficar indiferentes quando as pessoas são mortas, violadas, sequestradas”, o seminarista comboniano aproveitou esta mensagem para deixar “um apelo vibrante a toda a humanidade para que o fogo da caridade possa acender-se em cada pessoa para podermos construir um mundo mais humano e fraterno”.
Que cada um se interrogue, pede Eugène, “acerca do que está a fazer pela paz no mundo. E assim, ouça, veja e aja. Que a misericórdia de Deus converta os inimigos da paz.”
A Fundação Ajuda a Igreja que Sofre tem acompanhado esta questão dos massacres na República Democrática do Congo, dando conta de “diversos confrontos entre comunidades no nordeste”, violência que se regista num tempo particularmente tenso, com uma crescente contestação social a Joseph Kabila, que persiste em manter-se no poder apesar de o seu mandato presidencial ter já expirado em Dezembro de 2016.
As manifestações têm merecido o apoio da Igreja Católica e, apesar do seu carácter pacífico, têm sido objecto de uma resposta extremamente musculada por parte das autoridades.
A Fundação AIS já denunciou que as “forças da polícia e do exército têm recorrido a gás lacrimogéneo e até balas reais para a desmobilização dos manifestantes”.
Em consequência disso, há a registar um balanço trágico com mais de 17 mortos e largas dezenas de feridos e de detidos.
SN